DA NOSSA VIDA 

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Não ficamos insensíveis nem indiferentes àquilo que o mundo vai fazendo e escolhendo como valores seus. A morte como escapatória para problemas de diversa ordem, é uma opção que se vai tornando normal nos seres humanos destes tempos, que não se interrogam com mais nada que não seja a realidade palpável.

Só não se compreende que haja quem se diga filho de Deus que aceite sem estrebuchar, que a vida humana seja tirada a alguém, como se manuseia qualquer outra matéria sujeita ao domínio de acção do homem; que o aceite ou lhe seja indiferente. Porque é causa de profunda tristeza tudo o que rodeia a morte de um ser humano, mesmo quando há esperança na vida que não será descontinuada com a morte física. Para aquele que crê a vida não acaba, apenas se transforma. Até as leis da física parecem submeter-se às leis do espírito, como é o caso do princípio de Lavoisier: «Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma», princípio indiscutível, pelo menos até hoje.

É tão importante a vida para a espécie humana, que desde sempre os homens procuraram remédio para as suas maleitas, e tudo, naturalmente fizeram, para melhorar a sua qualidade. Agora tocou-se o extremo, forçando a morte quando a vida não apresenta qualidade ao olhar subjectivo de cada um. Aí se pretende chegar, dando um passo de cada vez.

O facto é que, descontinuando a vida não se destrói a mesma em definitivo. Nunca poderia estar na mão de quem não dá origem à vida, dar-lhe o seu fim definitivo. Quem a começa é quem a pode terminar. Por isso matar o corpo, não significa destruir o ser humano. Outras dimensões escapam à acção do homem: «Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer.» (Lc. 12, 4)

Por tal motivo é um logro pensar e assumir atitudes eutanasiantes. Porque, a vida humana, não corre sem sentido, antes, durante e depois da morte. Será antes causa de posterior «ranger de dentes» para quem toma essas atitudes, interesseiramente ou para impor uma ideologia. Será melhor não esperarem para ver nos capítulos seguintes da história universal e transcendente da humanidade.

Quanta dedicação e esforço de grande parte daqueles que dedicam e dedicaram a sua vida, de tantas maneiras, aos cuidados de saúde do ser humano. Verem-se agora obrigados a aplicar os conhecimentos acumulados por tantos agentes da medicina, em sentido oposto ao que os motivou, é perversão que há-de esmagar qualquer um. Apesar disso, sobrará uma franja que será excepção à regra, que porá em prática tão grande malfeitoria.

Padre Júlio