DA NOSSA VIDA

Partilha

Nunca nos faltando ao longo do ano, mais naturalmente nesta época festiva, os nossos Amigos respondem ao apelo de Jesus Menino partilhando com os Pobres os seus bens, como quem Lhe dá a Ele.

É a grande mensagem do Natal. Acolher espiritualmente o nascimento do Menino no acolhimento do Pobre que nos é próximo ou mais distante, é corresponder à voz daquele que nos manda preencher os vales e abater os montes do nosso coração, para que nele se tornem transitáveis os caminhos onde passará o Menino que Se fez homem.

Nós, como estalajadeiros nos caminhos de Jericó, temos a responsabilidade, que não é pequena, de tratarmos a feridas que os Pobres nos apresentam e que são, muitas delas, difíceis de curar.

A Pobreza é como uma ferida que sangra. Por vezes parece estar a cicatrizar mas, logo volta ao estado primitivo com o correr do tempo. Por isso, aquele que é incumbido de tratar estas maleitas, não pode abandonar um espírito pronto para as acolher e remediar, como o cirurgião que esquece os seus interesses e se faz um com o padecente, para o tentar curar.

Se não são feridas feitas pelo próprio, elas advêm do ambiente social onde o Pobre vive. Tal como estes tempos que vivemos as provocam, noutros outras guerras o faziam. São tantas e múltiplas as causas da Pobreza, que a havemos de ter sempre presente nos caminhos da história da humanidade. Felizes os que a têm no seu espírito porque terão parte na vida onde não há nem haverá pobres.

O grande remédio para curar estas feridas é o trabalho. E o grande contributo para se ter trabalho é a escola / formação. Se, como tantas vezes acontece, a aprendizagem é paliativa, não dá ferramentas sólidas para o trabalho, como não hão-de surgir novas situações de Pobreza? E os menos dotados para a aprendizagem, de capacidade ou meios, não terão maior probabilidade de nelas caírem?

Temo por aqueles que, fruto de um ambiente permissivo, na vida pessoal ou escolar, com inibições carregadas da primeira infância que lhes tolhem os movimentos, sem rectaguarda presente nos momentos de aperto, possam ficar indefesos se a indigência se aproximar deles. É que eles são dos que procuram ter trabalho, mas mais facilmente o poderão não ter ou perder.

Ainda aquelas pessoas que nunca poderão almejar ter um dia a capacidade para trabalhar; são aqueles a quem a doença acompanha por toda a vida. É uma Pobreza que nunca será resolvida.

O rol é extenso.

Todos são chamados pelo Menino, uns para darem suas ofertas, outros para receberem o que lhes faz falta. É assim o Presépio. Este é o espírito do Natal, a que nada se pode sobrepor. Os nossos Amigos nunca faltam à chamada. Como os Magos, regressam felizes a suas casas.

Padre Júlio