DA NOSSA VIDA
Padre Manuel António deixou-nos
Era homem de uma só ideia. Quatro verdades ou realidades a compunham e estavam no início do seu dia e com elas o terminava: o Nome de Jesus, Pai Américo, a Obra da Rua e a Casa do Gaiato de Benguela. A ordem poderia ser outra, mas estas quatro realidades estariam sempre presentes.
Vivia obcecado pela sua "querida Casa do Gaiato de Benguela": os Rapazes, os trabalhadores da Casa, os pobres e crianças dos bairros, a Igreja diocesana. Bendita e dolorosa obsessão que o apaixonou em toda a sua vida de Padre da Rua.
A independência das colónias portuguesas trouxe-o para Portugal no apogeu da sua idade adulta. Encontrei-o pela primeira vez nessa circunstância. Retive uma frase sua: «Nós precisamos de entusiasmo na vida!» Eram as saudades de Angola e do seu povo a quem se referia muitas vezes nos seus escritos. Não esperou muito pelo regresso. Aguardavam-no muitos de braços abertos.
O primeiro encontro com Pai Américo marcou-o profundamente. Sempre que a propósito o recontava, acompanhado de um cigarrito, enquanto a saúde permitiu, tal como Pai Américo fazia habitualmente: Tinha vindo para Cête, nas férias, participar numas colónias de rapazes que aí decorriam. Estando a dois passos de Paço de Sousa deslocou-se lá e manifestou a Pai Américo o desejo de entregar a sua vida sacerdotal, que começaria em breve, à Obra da Rua. Seu Bispo, D. António Ferreira Gomes, no dia da ordenação, enviou-o para servir na Obra e sublinhou o gesto com a manifestação do seu próprio desejo de que como gostaria que houvesse mais padres para servir os pobres.
Foi o principiar de uma vida com o pensamento e as palavras de Pai Américo à flor da pele, da sua doutrina, dos seus princípios e pedagogia, enaltecendo o amor pelos pobres.
A Obra da Rua, no seu pensamento, era uma grande árvore cujos ramos correspondiam às várias Casas. Muitas vezes se serviu desta imagem quando se referia ao Calvário, que ansiou ver replicado em Angola, como um dos ramos, muito importante, da Obra da Rua.
Toda a vida, por mais longa que seja, tem seu termo e realização. A morte é a maior verdade da vida. Mas, para quem crê, a Vida é a maior verdade da morte. Padre Manuel António, não muito antes de nos deixar, passou o testemunho da sua caminhada ao Padre Quim, que já há alguns anos partilhava com ele os trabalhos da Casa do Gaiato de Benguela. Esta passagem é um momento doloroso e crucificante, mas também está marcado pela esperança e confiança n'Aquele que foi o alicerce e o Mestre da construção da sua vida: o Santíssimo Nome de Jesus.
Padre Júlio