DA NOSSA VIDA
Conveniência
A situação social actual é adversa a muitos hábitos criados. Nas últimas décadas foi-se instalando uma mentalidade que orienta tudo pelo que é conveniente. Foi-se assim formando o homem do conveniente que, pelas circunstâncias actuais tem que abdicar de muitos dos seus propósitos. Embora dolorosa e com consequências graves na vida de muitos, esta situação em que as sociedades foram mergulhadas, havia de fazer pensar este homem do conveniente, de modo a afirmar-se como um homem de princípios, todos com o mesmo denominador: o bem comum.
Até aqui tem sido assim - a criança que está para nascer não convém que nasça: então aborta-se; A mulher / homem não convém: então separam-se / divorciam-se; a presença do pai / mãe não convém: então leva-se para um lar; a doença ou outra dificuldade não convém: então morre-se...
Todas estas situações são difíceis de suportar por quem as vive, e até, por vezes, de compreender. A sociedade dos homens é de constante inquietação, não é uma sociedade de anjos. Mas, também, o homem é dotado de inteligência e de consciência, mesmo sabendo que também elas são sujeitas a serem perturbadas. Noutros tempos, as pessoas estavam mais treinadas e preparadas, por necessidade ou por convicção, a oporem-se e a defenderem-se destas situações fracturantes na convivência social ou familiar. Estas opções vinham-lhes de uma força hoje completamente posta de lado: a renúncia. Quanto bem se construiu, quantas vidas se salvaram, quanta esperança se tornou realidade muito à custa de sangue, suor e lágrimas derramadas por alguns que foram capazes de renunciar ao interesse imediato, ao que lhes era mais conveniente.
Só é capaz de renunciar aquele que acredita em valores que, não aparecendo no imediato, estão contidos nas situações que se vivem, embora envoltos por uma névoa que o valor dissipa. Também este é um tesouro escondido a descobrir e a adquirir, renunciando a outros. Ou, ou, «não se pode servir a dois senhores».
Lindas histórias se contam, de ontem e de hoje, de acontecimentos em vidas tornadas realidade por homens e mulheres comuns. Ainda há dias li a história de uma mãe que durante vários anos se esqueceu de si mesma absorvida pelas carências do seu filho nos primeiros anos de vida. Era alguém de quem não esperava que reagisse deste modo perante a grave adversidade com que teve de se confrontar. Admirável renúncia de si mesma, sem se dar conta de tudo a que renunciava. Todas as conveniências pessoais que outros poriam em primeiro lugar não entraram no seu coração de mãe, onde dominou o amor a seu filho.
Padre Júlio