DA NOSSA VIDA

Perdão

Nesta situação de pandemia, é aconselhável e obrigatório tomar todos os cuidados para evitar a sua difusão. Neste sentido vai o pensamento normal da generalidade das pessoas. Entre nós vemos que o mesmo também vai sendo levado a preceito.

Há no entanto outro lado nesta pandemia para que, me parece, não muitos olham - é o daqueles que são as vítimas do vírus que a constitui.

Chegados ao terceiro milénio, muitos pensariam que a verdadeira qualidade de vida seria atingida nesta época da vida humana. Muitos progressos alcançados nas últimas décadas do século XX faziam antever uma etapa de vida social grata a todos. Mas verificamos que não foi isso que sucedeu, antes se multiplicaram as desigualdades, empurrando muitos para uma vida difícil e marginalizada do seu contexto familiar e social.

Nas famílias, esperar-se-ia que se mantivesse a sua unidade e que crescesse a alegria no seu seio, por via disso e de melhores condições de vida. O que se verificou foi a sua desagregação por opções individualistas dos seus membros, influenciados por promessas quiméricas aventureiras e de êxito pessoal ostensivo. O resultado está à vista, com prejuízo de todos, mas principalmente dos mais indefesos, as crianças e os mais velhos.

Estes, os mais velhos da família, com a expansão do vírus exportado para todos os cantos do mundo, foram os eleitos para se tornarem as suas principais vítimas. Muitas destas pessoas, já gravemente marginalizadas antes da difusão do vírus, ficaram expostas a ele como vítimas inocentes, quase sem escapatória para se defenderem ou serem defendidas. Só entre nós, são centenas de histórias certamente trágicas, que deveriam fazer-nos a todos arrepiar caminho, apostando tudo no valor incomparável da família mesmo que em detrimento de algum bem material ou pessoal. As histórias da sua juventude, construídas de trabalho e trabalhos, deveriam merecer o respeito incondicional dos seus familiares mais próximos e dos serviços públicos da sociedade, os quais deveriam deixar as ideias babilónicas e assentarem os pés na realidade onde os mais fracos suplicam dignidade.

Estes acontecimentos trazem consigo uma exigência de mudança de critérios de vida pessoal, familiar e social. E esta mudança só poderá acontecer se da parte de todos houver um sentimento conducente a um desejo de perdão e de mudança. Não podem ter sido em vão as dores sofridas por todas as vítimas deste vírus e dos que sofreram unidos a elas. A dignidade de todo o ser humano, particularmente dos mais frágeis e dependentes, não pode ser descartada como se o ser humano tivesse um prazo de validade pois ele tem valor eterno.

A família é o contexto da vida de Deus, e o modelo de vida para o homem criado à Sua imagem.

Padre Júlio