DA NOSSA VIDA
Escrever aqui
Não são muitas vezes mas algumas, em que nos sentamos para escrever as linhas que cozem as páginas d'O GAIATO, e ficamos, como o profeta Elias, à porta da gruta à espera do Senhor, olhando o firmamento. Não esqueçamos que como Pai Américo disse, devemos «escrever como quem reza».
Por vezes não vem nada de interessante que tenha a ver com Ele. O tempo vai passando e nada... Deixamos para mais logo.
Também acontece, esporadicamente, ser necessário arrancar uma ideia e o seu desenvolvimento à força. O Senhor também empunhou a bravura do chicote para pôr as coisas no seu lugar. Se calhar, muitas mais vezes do que pensamos. A sua bondade não é melaço mas mel.
Outras vezes vem uma palavra, um pensamento, e eis que começa um diálogo atraente. O Senhor vem no sopro da brisa.
É bonito de pensar que as coisas mais simples são as mais inspiradoras. Nestas coisas simples Ele se revela e dialoga.
A palavra que hoje me inspirou foi «folha». Algum dos nossos mais próximo a proferiu, vendo-me parado a contemplar uma folha branca diante de mim: «Há bocado uma folha caiu, mas não tinha nada escrito», disse. Não ficou sem resposta: «Isso foi lá fora, retorqui, mas olha que tinha de certeza alguma coisa escrita. O que é preciso é saber ler!»
De facto, uma simples folha de uma qualquer planta, tem inscrita nela palavras do seu Autor-Criador. Foi sob a moção dessas palavras que a planta-mãe nasceu, cresceu e se perpetuou a sua existência.
É certo que a ideia do meu interlocutor tinha o seu próprio termo de comparação. Mas é interessante ver como uma ideia feita palavra pode ser como o vento: Não se sabe de onde vem nem para onde vai.
Pai Américo referiu na primeira edição d'O GAIATO, que Ele haveria de sair todos os quinze dias até ao fim do mundo, isto é, sempre. Assim há-de ser, porque fala de Alguém que permanece, que tem a fonte da existência em Si mesmo.
Escrever n'O GAIATO é isto. Sendo assim, nada aqui se cria, tudo se transforma e renova. Cobre a cabeça e escuta-O.
Padre Júlio