DA NOSSA VIDA

Virtudes

A vivência de forma heróica das virtudes evangélicas por Pai Américo, reconhecida pelo Santo Padre Francisco, é um modelo e um estímulo apresentado pela Igreja a todos os discípulos de Jesus Cristo que, embora cientes da própria fragilidade em atingir tal estado de perfeição de vida, não podem desistir de procurar dar-lhes concretização em apontamentos da existência.

Torna-se claro que, há pessoas que trazem já consigo, na sua origem, um fervilhar da virtude na inteligência e no coração. Opostamente outras, parece carregarem dentro de si uma inclinação para acções nada condizentes com uma vida fraterna, pacífica e harmoniosa. Será mesmo assim?

Abel e Caim são exemplo para esta oposição de sentimentos em pessoas distintas. A oferta de Abel agradou ao olhar do Senhor e, por isso, foi-lhe favorável, como refere o Livro do Génesis. Já a oferta de Caim nem sequer foi digna do olhar do Senhor, o que deixou Caim muito irritado e transtornado. A vivência de Abel fluía para a virtude, ao passo que Caim tendia para o mal, estando a sua vida sempre envolta pela presença do pecado, deitado à sua porta, pronto a influenciá-lo. Aquilo que não atormentava Abel, a Caim obrigava-o a estar muito atento, para que ele fosse um dominador e não um dominado. Ambos eram livres, mas Caim teria de ser mais esforçado para preservar a sua liberdade.

A vida da Casa do Gaiato é, como dizia Pai Américo, a seara imensa do trigo e do joio. Se estabelecermos um paralelo destes com os modelos personificados por Abel e Caim, não andaremos longe do homem virtuoso que, tal como o trigo é beleza e alimento, e o homem malévolo que é factor de afastamento e divisão. Entre os extremos, muitos e muitos outros que às vezes trigo e outras vezes joio, visto que o pecado se senta à sua porta e esse lhe dá ouvidos.

Ainda há dias um dos nossos, parece-me que muito mais Abel que Caim, foi alvo de uma brincadeira que o feriu. Desse ferimento não culpou o seu colega mas, na descrição do sucedido, logo o desresponsabilizou dizendo que o outro o tinha feito sem querer. Muitos mais são aqueles que procuram desresponsabilizar-se dos seus erros responsabilizando outros.

Voltando a Pai Américo, desde muito cedo se nota nele a tendência para a virtude. Essa virtude que irrompia nele, na infância, em forma de amor aos pobres da vizinhança e aos que passavam à sua porta, bem como no trato com os outros rapazes, e em manifestações de alegria e amor por sua mãe, pondo sob o seu olhar os molhos de erva que, suas mãos, haviam ceifado no campo. Anos mais tarde, no seu empenho em encontrar-se com a verdade por via dos eruditos, e depois em descobrir-lhe a fonte, passando a ponte do racional ao espiritual, e preservando-a na entrega da sua vida.

Virtude e verdade são os carris que levam uma vida a ser apreciada pelos homens, impulsionadas pelo sopro de Deus.

Padre Júlio