DA NOSSA VIDA

O essencial

As restrições que a situação actual impõe, forçam-nos a todos a procurarmos o essencial da vida. A vida já não será vivida com os mesmos critérios de antes à pandemia, a nível material e moral; mas, até quando? O ser e o ter serão redefinidos; com que expressão?

Os Pobres viram a sua situação de carência aumentada. O essencial é agora e ainda mais, o mais básico para viver: O que comer? Ficam em espera outros encargos, como pagar a renda da habitação e os outros inerentes, sem falar naquilo que os seus filhos necessitam para que não fiquem marginalizados por falta das novas ferramentas escolares.

O número de pessoas nesta situação aumentou: Aos que já viviam na continuidade de dependência de subsídios, acrescem os que tinham empregos precários ou iniciados há pouco tempo que, entretanto, terminaram. Outros ainda que viram suspenso o seu trabalho e reduzidos os seus rendimentos. Agora, perante as grandes carências

dos que já eram Pobres e dos que caíram na pobreza, ainda que

o venha a ser só temporariamente, olham todos ao essencial, que é terem, em primeiro lugar, para a alimentação.

Outro bem essencial é a saúde, que todos necessitamos. Até os mais novos, que por natureza estão mais protegidos, não descuram o seu instinto de a defenderem. O mesmo se passa com os nossos. Preferem não sair à rua, porque em Casa se sentem mais seguros. Ainda que algum sentimento de isolamento possa aparecer, facilmente o atenuam com as comunicações com seus companheiros de escola através das redes sociais na internet. A saúde será sempre um bem essencial.

Com o resfriamento do sentimento de domínio humano sobre a vida, os valores humanos fundamentais passam a ver reconhecido o seu valor e lugar quando antes eram desprezados

ou esquecidos. Os mais velhos voltarão a ser importantes na família. De tão esquecidos e postos à margem, partiram sem a oportunidade de se despedirem, achando em Deus o acolhimento que aqui não tiveram, como Lázaro. Depois as crianças, que manifestando na sua fragilidade uma surpreendente fortaleza - a natural e grande imunidade - simplesmente dão a entender que, sem elas, tudo ficaria muito mais triste e o futuro sem esperança. Por fim, a família no seu conjunto: os mais velhos serão respeitados e amados, os mais novos reconhecidos pelo seu valor humano e os membros mais activos e eficientes, nas idades intercalares, reconhecerão os seus limites e assumirão maior humildade, começando por respeitar o outro que escolheram como companheiros para a vida. Trata-se pois de pôr um ponto final nos três grandes capítulos que retiraram dignidade à humanidade nas últimas décadas: A eutanásia que desvirtua o sentido da vida, o aborto das crianças em gestação que lhes nega o direito fundamental a viverem, o divórcio causador de males individuais, familiares e sociais.

Como há cerca de 80 anos ficou dito, «O essencial é invisível aos olhos» (Antoine de Saint-Exupéry). Por isso, o homem aprenderá a desenvolver a sua dimensão espiritual, do que passará a atender mais às carências dos outros.

Padre Júlio