DA NOSSA VIDA

"Já" e "ainda não"

A vida do cristão realiza-se a cada instante em duas acções: esperar e realizar. Parecendo incompatíveis estes dois verbos, não o são de facto na vida do discípulo de Jesus e nela andam sempre a par.

Também nestes dias que vivemos, em que a atitude de esperar domina, pergunto-me onde está em simultâneo a acção de realizar?!

A nossa Comunidade mantém-se nas actividades que lhe são habituais, cada um de nós faz o que lhe é normalmente atribuído fazer, com diferença na forma de as realizar.

A importância da presença no exterior ficou reduzida, cresce em importância a acção espiritual. Lembro-me de Santa Teresinha do Menino Jesus, declarada Padroeira das Missões, ela que nunca nelas trabalhou de forma presencial, toda a sua acção, por elas, foi espiritual.

A nossa vida não é conventual. Já Pai Américo tanto quis que a sua vida fosse no Convento, nele começou a sua nova vida, mas a realidade apontou-lhe outro caminho a seguir. E ele seguiu, embora hesitante de início.

É então que a vida cristã conta com condimentos nem todos facilmente perceptíveis. Esperar e realizar não são somente concretizações físicas mas simultaneamente espirituais. Nos dias de hoje, acentuam-se estas. Somos chamados a viver mais intensamente estas.

«Nem só de pão vive o homem», sim, mas ele é imprescindível para a vida, por tal motivo até dele sobraram, sem se perder nada, doze cestos cheios!

Entre dores, prantos e angústias, confronta-se a humanidade hoje com esta exigência de reavaliar a vida, de valorizar aquilo que estava sendo lançado para onde se lança o que não presta. E é tão importante esta dimensão do homem, a dimensão espiritual, que não se esgota no pensamento e nas artes que o espírito humano cria e desenvolve. Há Alguém para lá do próprio homem, com quem o homem precisa de se relacionar, espiritualmente ou através de obras materiais que têm motivações espirituais. A vida não se pode esgotar no homem e naquilo de que ele tem consciência.

Humanamente, esperar faz apelo àquilo de que não temos pleno conhecimento, embora acreditemos na sua realização, "já" ou "ainda não". Num e noutro caso é o homem espiritual que deve ser sujeito das concretizações do "já" da vida, com os outros e o Outro, abrindo-se ao "ainda não" também com espaço para os outros e o Outro.

Esperar e realizar na vida cristã não deixa ninguém sozinho nem incompleto. Nela entram os outros e o Outro e todas as dimensões da vida humana.

Padre Júlio