DA NOSSA VIDA
Pobres
De facto, não podemos estar presentes, a seu lado, em todas as situações em que os Pobres nos pedem ajuda. Contam-se por algumas centenas, as famílias ou pessoas individualmente, que a nós recorrem, muito espaçadamente no tempo ou com mais frequência. A doença, o abandono, os parcos valores que angariam mensalmente, impedem-nos de se tornarem autónomos em definitivo. Por isso, vão recorrendo à nossa Obra nos momentos aflitivos, em que não conseguem responder, no imediato, às despesas que têm de cobrir.
Sem que lho tenha facultado, quase todos já sabem o meu número de telemóvel. Pela distância que nos separa ou por qualquer dificuldade de virem até nós, ligam, e apresentam a sua carência. Aos que atendo e correspondo, por esse meio, são pessoas que já conheço bem. Caso contrário, terão de vir ou sermos nós a ir ao seu domicílio.
Não se trata de um serviço social que lhes prestamos, é antes um serviço fraterno que nos liga. Papéis comprovativos, só mesmo quando a situação o exige. Vale mais, normalmente, o diálogo e a presença no meio, para sentirmos a vida do Pobre e a necessidade de lhe correspondermos.
Desta vez, e em catadupa, foram três mulheres, cada uma por si, usando essa via para pedirem ajuda em situações que, por si mesmas, não conseguiam resolver. Primeiro, uma viúva, cujo falecido marido conheci nos últimos tempos da sua vida, marcada por doença grave. Ainda fomos a tempo de lhes cobrir a casa com uma cobertura nova e de melhorar o interior. Agora, era uma necessidade básica, água canalizada da rede pública, que até hoje foi satisfazendo com a cedência de uma vizinha. Impunha-se fazer a ligação agora, para o que contou connosco.
Outra mulher, muito doente, ligou para lhe completarmos a renda que não conseguia pagar na totalidade. As rendas na cidade são elevadas para os Pobres, cada vez mais incomportáveis. Uma vez ou duas por ano, bate à nossa porta. Desta vez mostrou-se confiante num programa camarário que, com a contribuição deste, verá diminuir a renda a seu encargo dentro de breve prazo. Espero que, desse modo, passe a viver mais desafogada, e as outras despesas mais necessárias, não lhe levem o que terá de pagar pela renda da sua habitação. Desta vez calamos a senhoria, enviando-lhe o que faltava.
Por fim, uma mãe ainda jovem, sempre em busca de uma vida estável que não aparece, que conta, por mensagem, que lhe surgiu uma oportunidade de trabalho, mas que, para o ter garantido, tem de deixar os filhos no infantário. Uma dívida que lá deixou, está a impedir que os seus planos se concretizem. Endereçamos então, directamente ao infantário, a chave para lhe abrir as portas. Seria bom que tão cedo não falássemos, sinal de que o trabalho lhe deu a estabilidade de vida que procurou e encontrou.
Os Pobres são os nossos senhores, como dizia S. Vicente de Paulo, porque o nosso Senhor se fez Pobre para nos enriquecer com a Sua Pobreza e n'Eles quis ser servido pelos tempos fora.
Padre Júlio