DA NOSSA VIDA
Escola
Não é nada comum... Um Rapaz sempre preocupado com os seus trabalhos escolares, nunca virando a cara à luta para aprender o que não sabe, não é nada comum.
Quando regressa da escola, a primeira coisa que me diz é: «Logo tenho trabalhos para fazer; preciso de ajuda».
Já sei o que me espera depois do jantar. Sinta-me cansado ou não, não posso negar a ajuda. Às vezes lá lhe vou dizendo que estou muito cansado. Ele olha-me de olhos arregalados, dá um estalido com os lábios e, ou se senta e começa a trabalhar ou põe a mochila às costas e sai sem dizer nada.
É assim o nosso «Zidane». Não é nada comum.
Numa fase tão difícil da vida das escolas, em que o ambiente criado convida e confirma os pouco ou nada interessados a nada fazer, há, ainda assim, uns tantos que têm objectivos e não se deixam levar pelo ambiente.
Gostar de estudar e ter iniciativa para o fazer, é coisa rara senão de uma minoria. Temos cá outro Rapaz que, desde o primeiro ano escolar, sempre manteve esse interesse a ponto de me fazer temer que a onda dos telemóveis o pudesse desencaminhar deste gosto. Já a frequentar o secundário, tem mantido a bitola embora ainda me deixe em dúvida acerca da minha dúvida.
O ensino tal como está e como pior o querem pôr, está a produzir, em parte, o inverso do que se pretende dele. O resultado deveria ser a formação intelectual, técnica e cultural da juventude, mas pelo que parece, está a ser fermento para empobrecer uma grande parte dos jovens que, saindo ignorantes das escolas e desarmados das ferramentas para o trabalho que a sociedade pede, acabarão por fazer crescer o número dos pobres e até, sabe-se lá, o aumento dos sem abrigo, cuja realidade parece ferir a sensibilidade de quem tem responsabilidades no corpo social.
Não são só os alunos a saírem prejudicados por um sistema que os obriga a nele permanecerem inseridos até à idade adulta. São também muitos professores que, calculo, não andarão muito motivados e felizes na profissão que exercem.
Este ambiente que não motiva nem promove o trabalho, o qual é a fonte do desenvolvimento e da criação de riqueza, cria grandes desníveis no estrato social (que se procuram remediar ou tapar sob a forma de rendimentos mínimos), o que acabará por conduzir ao descontentamento.
Embora sendo poucos, vamos lá ver se ao menos o nosso «Zidane» e o nosso «secundarista» mantêm a pedalada.
Padre Júlio