DA NOSSA VIDA

Órfãos de pai vivo

Depois daquela jovem mãe com dois filhos, que o pai deles abandonou, logo nos surgiram mais duas situações de abandono.

Uma das mães, com três filhos, já nos procurara no Verão e, nessa altura, ajudámos a resolver a sua maior aflição - pagamento da factura da luz em atraso. Foi a avó das crianças que a incentivara a vir. Procurámos ir depois visitá-los, mas nem com o GPS conseguimos dar com a rua. Desta vez, esclarecemos onde viviam, para não nos perdermos. Ainda assim, foi preciso telefonar para os localizar. Uma das crianças tem problemas de saúde. As outras vão crescendo e, uma delas, já frequenta a escola. O ausente pai delas, comprometeu-se a pagar a renda da casa e tem cumprido. Apesar disso, as despesas são difíceis de cobrir, pelo que necessitam de ajuda.

O terceiro caso é também de abandono paterno. Irresponsabilidade em certo nível deixou marcas difíceis de apagar. Os dois filhos, um já na escola e o outro a sair do colo, são a preocupação desta mãe. Foram também facturas da luz que a trouxe até nós. A avó materna coabita com a filha e netos, e vai ajudando um pouco; assim vão levando a vida para a frente.

Três casos, três situações de abandono paterno. Três mães, sete filhos - quase só os Pobres os vão tendo e criando (se os deixarem) - laços de amor materno incapazes de congregar a família toda. Se assim com os Pobres, como com os que centram a vida noutros valores? É uma doença que se pega. Com esta facilidade para comportamentos de irresponsabilidade, nestes casos paterna, fica comprometido um futuro equilibrado para estas mães e seus filhos, todas elas muito jovens.

Já não serão tanto estes, tempos de órfãos de pais vivos, como acontecia há umas décadas atrás, mas antes de órfãos de pai vivo. As mães, de coração pobre, vão assumindo, com muitas dificuldades, a sua missão, pelo menos nestes casos e por aqui. Mas que são muitas as situações de abandono semelhantes, não há dúvida. O matrimónio está posto em causa há muito tempo, pela desconfiança em levar até ao fim compromissos duradouros ou em ser capaz de os cumprir; mas, as generalizadas uniões sem qualquer tipo de compromisso nada alcançam de consistente, mostrando que a ilusão de liberdade com que aparecem é fruto, não desta, mas de fuga à responsabilidade.

Famílias voláteis tornam a sociedade volátil. A orfandade, que parecia ser situação ultrapassada, coisa do passado, cresce, perdendo o ser humano em humanidade, por isso, todos perdem.

Padre Júlio