DA NOSSA VIDA

Solidão

No turbilhão da vida é preciso não nos deixarmos levar por ele, quer por, afincadamente, lhe querermos resistir ou por, voluntariamente, nos deixarmos levar. Mas, a fidelidade à vida é o único sentido a tomar para chegarmos a bom porto.

Sabemos como são conturbados, de facto, os nossos tempos. Ainda que no meio de muitos outros, o homem está cada vez mais só. Desde o nascer ao morrer é um ser que necessita de protecção. Mas hoje, orgulhosamente, recusa protecção e, arrogantemente, expõe a sua autonomia. Aqueles que, involuntariamente, sofrem a solidão, são dados como perdidos.

Como consequência, vemos a perda, galopante, de modos de relacionamento humanos mutuamente enriquecedores: acolhimento, respeito, obediência, serviço... - «Se neste dia tivesses conhecido, tu também, O que te pode trazer a paz! Mas isto ficou oculto aos teus olhos.»

À custa de se centrar na criação de riqueza, que irá beneficiar sempre um número reduzido, torna-se o homem contemporâneo cada vez mais pobre e empobrecedor. Quantos vão atrás, saldando a sua vida por baixo?!

A vida não se alcança com o bem-estar, mas que o ser e o estar bem seja dado a todos, a começar pelos que estão mal. Fazer que todos estejam bem pelo bem, é verdadeiro enriquecimento humano.

Dizia-me há dias uma pobre que vive só, com pouco e com pouca saúde, que fala muito com Deus; que Deus a ouve mas não lhe responde; mas que aquilo de que precisa sempre alcança. Na hora não percebi completamente a relação, só depois compreendi como, sem que ainda ela o tenha percebido totalmente, Deus, de facto, fala com ela.

A solidão não está no facto de se estar sozinho, embora no estar sozinho se abrirá mais facilmente a porta da solidão. Conheci um homem que, pelas circunstâncias da vida, vivia só e num local isolado. Um dia, foi confessar-se, tendo dito ao sacerdote que tinha fé que Nossa Senhora não o deixaria morrer sozinho. Como resposta recebeu uma advertência: «Fie-se na Virgem e não corra!» O certo é que, expirou numa primeira noite de alguns dias que iria passar junto de familiares...

Há dias, um telefonema; foi só para dizer que se sentia muito só desde que o marido partira. A solidão é outra forma de ausência de paz: «Se neste dia tivesses conhecido, tu também, O que te pode trazer a paz!»...

Padre Júlio