DA NOSSA VIDA
Obra da Rua
A Obra da Rua ganhou identidade quando, há quase oitenta anos, Pai Américo lançou os alicerces da primeira Casa do Gaiato, Coimbra, sita em Miranda do Corvo. Nesse dia 7 de Janeiro de 1940, a Obra da Rua nascia, pronta a "ganhar dentes" e a crescer. O seu desenvolvimento, ao longo das décadas que se seguiram, não a transformou noutra realidade, antes a consolidou no que já era ao nascer.
Do realizado nos anos subsequentes, a expressão acutilante de Pai Américo, ponto de fecho das Normas de Vida dos Padres da Rua, vai no sentido da fidelidade ao ideal que esteve na génese da fundação: «As Casas existentes e outras que porventura se venham a fundar, devem gozar de uma racional independência e, quanto possível, bastarem-se. Porém, jamais a multiplicação venha nunca a prejudicar a sua Unidade».
A Obra da Rua não é pois um somatório de Casas, como o nosso Padre Carlos costumava sublinhar, mas um espírito levado à acção material pelo exercício da Caridade ao serviço dos Pobres, independentemente do volume das iniciativas: as crianças da rua, os doentes incuráveis a quem a família faltou ou abandonou, os Pobres em suas carências.
As coisas do espírito nem sempre são fáceis de apreender, especialmente por quem ande conduzido e absorto nas coisas materiais, como se só por elas se resolvessem os problemas. Daqui o equívoco em que muitos caem, de nos enquadrarem no simples contexto de obra de assistência ou social, esquecendo os valores humanos mais escondidos: o acolhimento, a valorização do que parece sem valor, o acompanhamento, o calor da fraternidade e o limite humano à eternidade. Mas, porque é mais evidente, o que é visível ganha supremacia em face do que é riqueza interior, impondo-lhe as suas leis muito objectivas.
Estas leis, como todas as outras, controlam e marcam limites. Mas, para o espírito não há leis, isto é, «ama e faz o que quiseres». Foi o que Pai Américo fez, e porque fora dos limites da época, foi profeta e realizou Obra com identidade.
Esta identidade permanece, na vida interna da Obra e fora dela. Valores que acompanham positivamente o homem desde a sua origem, que traduzem aquela máxima de Santo Agostinho atrás referida: liberdade e responsabilidade. Como base disso, Porta Aberta, poder entrar ou sair, responsavelmente.
Por outro lado, que a multiplicação das Casas feita ao longo dos anos, não «venha nunca a prejudicar a sua Unidade». Se e quando esta multiplicação afectar a Unidade da Obra, então é conveniente que se desligue para que a fidelidade à Unidade e à identidade se conservem para o bem perene da Obra.
Padre Júlio