DA NOSSA VIDA

Vocação

Uma vocação que nasce para a Obra da Rua, cedo começa a ser gerada. No momento em que é conhecida, já anos se passaram pelo íntimo do vocacionado, onde a semente foi semeada e se desenvolveu sem se saber como. A iniciativa deste processo de vida, não surgiu dele, é dom de Deus.

No ano transacto tivemos a graça da revelação de duas vocações sacerdotais, para servirem aqueles que a Obra da Rua serve. Como a seara é grande, não lhes falta campo onde trabalhar, até porque são poucos os trabalhadores e, parte deles, com as limitações que a idade avançada impõe.

Por tal motivo, no nosso pensamento bailam orações, tentando perscrutar o que andará o Senhor da seara a preparar para os tempos que aí vêm. Como Jesus diz, «Meu Pai trabalha continuamente e Eu também trabalho». Sim, de tal modo que nos põe atentos para descobrir os seus sinais, para acolhermos o fruto das Suas mãos, na parte que nos reserva e nos dá em quinhão.

É como diz o Salmista: «Como os olhos da serva se fixam nas mãos da sua senhora, assim os nossos olhos se voltam para o Senhor nosso Deus, até que tenha piedade de nós.»

Sim, acolher uma vocação é o mesmo que acolher o trabalho do próprio Deus, pois ninguém reserva para si o mérito do chamamento. De outro modo seria entrar no redil pela janela e não pela porta, como já Pai Américo dissera, de onde acabaria por ser expulso tal como o convidado que foi para a boda destituído do traje adequado.

O livro «De como eu subi ao altar», que Pai Américo planeou escrever, mas para o qual não
redigiu página nenhuma, escreveu sim, não com letras de forma mas com letras formando palavras na sua vida, no tempo e no espaço em que viveu. Esta é a forma de Deus escrever no coração do vocacionado, com o dinamismo que Deus lhe suscita e ele é capaz de acolher e pôr em prática. A linguagem em que se comunica é a da luz que actua nas trevas, revelando-se em parte e em parte escondida, como a semente que é lançada à terra.

É assim o trabalho de Deus, no homem e natureza, nos quais se vão manifestando obras extraordinárias da Criação, sem se saber como elas se desenvolvem. O Espírito não pode ser aprisionado por ninguém, nem mesmo pelo que crê ou que recebeu o dom. Em termos populares diríamos que não é o hábito que faz o monge, pois se o fosse, este monge não seria obra de Deus.

Se olharmos para a vida dos nossos padres percebemos em todos eles um livro que nunca foi escrito para ser colocado em mãos de leitores, mas um livro autêntico, escrito pelo dedo de Deus nas páginas que cada um foi vivendo. Não há biblioteca capaz de receber estes livros. Eles espraiam-se na vida, não para se salientarem mas para a fermentarem.

Agora não é tempo de nos perdermos a contemplá-la, é tempo de gerar frutos que a graça de Deus semeou no tempo da sementeira no coração de cada um. É tempo de pedir ao Senhor de todas as graças que comece novos livros, à Sua maneira, e de Lhe agradecer todo o bem que para nós realizou.

Padre Júlio