DA NOSSA VIDA

Pobreza

Esteve algum tempo internada num hospital. Quando chegou a casa, às facturas que deixara por pagar, de luz e água, juntaram-se outras que a deixaram aflita: havia avisos de corte de fornecimento.

É uma Pobre mulher com dois filhos, ambos pesos que ela tem de transportar juntamente com as suas próprias carências. Ao pagamento da água e da luz, acrescia também a falta de gás, «até para fazer um chazinho». O valor de todas as facturas rondava a centena de euros. Não foi muito, ao contrário das bênçãos com que nos cobriu.

Já nos conhecemos há dois anos, desde que esteve em risco de despejo por deixar acumular um ano de rendas por pagar, cujo valor mensal é de uma centena e meia de euros. Como ela, outros Pobres, que até para satisfazer os seus pequenos encargos não reúnem o suficiente.

Há 30 ou 40 anos, um ordenado de uma centena de contos, cinco centenas de euros actuais, era bom. Hoje, o mesmo valor ou mesmo algo mais, não chega para manter as despesas mensais equilibradas. Por isso, a fasquia do limiar da pobreza subiu muito, multiplicando-se o número daqueles cujos rendimentos do seu trabalho não cobre as despesas básicas, sem pensar sequer nas supérfluas. Este assunto não terá uma apreciação unânime, mas aquela Pobre que refiro acima, cujos rendimentos andam muito abaixo, é-O sem dúvida.

Na diversidade de conceitos de pobreza, cada um toma o que quer, de tal modo que podemos chegar ao limite de considerar ricos que são pobres e pobres que são ricos, invertendo-se o sentido de riqueza e pobreza consoante seja considerada no sentido moral/espiritual ou material.

Como encontrar então um denominador comum para as diversas situações em que se encontram as pessoas?

Há vários anos, ajudamos uma família a reparar o telhado de sua casa e algo mais no interior. Era um casal com uma filha, ainda adolescente. Ele sofria de doença grave; ela, menos marcada pela doença, mas também com alguns problemas de saúde. Uma outra família que os conhecia, fora quem viera pedir ajuda para eles. As reparações fizeram-se. Desde então, pelo Natal e pela Páscoa, sempre recebo um telefonema daquela Senhora, desejando-nos Boas Festas, grata pela ajuda que lhes demos.

Colocaria pois aqui, o denominador comum do Pobre: a gratidão. O Pobre é agradecido, tudo o que recebe é dom. Pode ser um bem material, pode ser a presença de alguém, pode ser uma palavra. Por isso, o Pobre é capaz de partilhar do pouco ou do muito que tenha. Como dizia Pai Américo: «Para ajudar o Pobre, ainda não apareceu ninguém mais capaz do que os pobres»; «Ai dos pobres, se não fossem os pobres!»

Padre Júlio