DA NOSSA VIDA
A luz
Lá fomos nós uma vez mais a Fátima. Uma vez por ano, se e quando é possível, procuramos viver um dia que abra novos horizontes, em ambientes conhecidos ou desconhecidos, e que deixe memórias e referências agradáveis para o futuro. O que procuramos, acima de tudo, é que haja mais vida do espírito, pois Ele é que dá vida.
Em simultâneo com a presença em Fátima, Santuário e o que o originou, mais um ou outro lugar que sejam também referências do mistério da vida. Este ano foi a visita a umas Grutas da Serra d'Aire. Os Rapazes não faziam ideia do que iriam encontrar. Esta visita, com um valor acrescentado porque guiada, deixou marcas indeléveis nos Rapazes, assim creio. As belezas da Natureza, sempre em permanente movimento criador, são confronto e traçam paralelismos com a vida do espírito, quando vêm à luz.
Chegados ao final da visita, o nosso guia, depois de nos advertir, apagou as muitas luzes espalhadas por toda a Gruta, para que percebêssemos o ponto de que partiram os seus primeiros exploradores. Nada se via. Mas, esse apagar e acender de luzes, levou-nos mais longe que o objectivo pretendido. Se nos fez compreender a importância que a luz tem para vermos as realidades que com ela se tornam visíveis, fez-nos perceber também, que os acontecimentos da vida da humanidade sem a luz interior no nosso espírito, não são mais que relatos inteligíveis, que só adquirem a sua verdadeira dimensão a essa luz.
Fátima, onde depois fomos, gira à volta de acontecimentos que só a essa luz se compreendem na sua verdade. Os mesmos desenvolveram-se num contexto de luz. A luz é o centro deles. É a essa luz que aquelas crianças, escolhidas, revêem as suas vidas e redireccionam os seus objectivos. Antes, sem essa luz, era a vida como a de todas as outras crianças; depois, a essa luz, tudo para elas mudou de valor.
Pai Américo usava uma expressão curiosa para traduzir esta diferença de perspectiva na leitura das realidades: Não sei se é dos óculos ou de quê, mas eu vejo tudo ao contrário. Era a luz interior que o fazia ver as injustiças e irresponsabilidades sociais, em contraste com a acomodada leitura de quem via à luz do senso e da mentalidade comuns. Um dos grandes méritos de Pai Américo foi trazer para a luz, a que todos podiam ver, as misérias e abandono a que os Pobres estavam sujeitos, tratados como lixo da sociedade, de modo a terem nela o seu lugar. Mas mais! Não um lugar por solidariedade mas um lugar por amor.
Este é o centro da Celebração da Páscoa que mais uma vez vivemos. A Páscoa que é essencialmente luz, passagem do mundo carente de luz, para a realidade de Deus que é Luz.
Padre Júlio