DA NOSSA VIDA

O trabalho

O comerás o pão com o suor do teu rosto, tido por muitos como o castigo dado por Deus ao homem no momento em que perdeu o respeito por si mesmo, pecando, estaria agora desacreditado por esta sociedade ocidental que dá o pão a tanta gente sem a contrapartida do trabalho que provoca o suor do rosto.

De há uns anos a esta parte, entre nós, foi criado o rendimento mínimo. Muitos indivíduos e famílias passaram a usufruir de um valor pecuniário sem ter de prestar qualquer trabalho para o receber. Na sua origem, na melhor das intenções estaria uma questão de solidariedade da sociedade em geral para com os membros da mesma a passar por dificuldades materiais. Como tudo o que é obra humana, sempre marcada pela imperfeição, vamos nós dando conta que nesta medida de apoio social, também corre a par muita imperfeição.

Daqui decorre que muitos ou alguns dos beneficiados, não importa contabilizar, passaram a comer o pão sem o suor do seu rosto, sem necessidade de trabalhar para a sua subsistência mínima. Então em que ficamos? Qual o sentido desta Palavra divina?

Entendo a máxima em questão, como uma oportunidade para que o homem recupere o respeito por si mesmo, se reconcilie com ele próprio e com Deus, de quem recebe todos os dons e para quem os deve orientar no sentido mais íntimo do seu valor. Não se trata de uma castigo, mas de uma oportunidade para limpar a cara com o suor do rosto. Quem não vai por aqui não agarra a oportunidade.

O trabalho dignifica o homem, como diz a sabedoria popular. Vox Populi, vox Dei, estão de acordo. Importa que o trabalho seja valorizado, em qualquer etapa da vida, à medida de cada um. Por isso, não pode cair em desuso a máxima, de há muito afincada na nossa pedagogia, de que quem não trabalha não come. O exercício de uma actividade útil tem de ser visto como um bem para quem a realiza e também um bem para aqueles que dela beneficiam, porque se aqui o fruto nasceu do trabalho deste, ali este irá beneficiar do trabalho de outro. Assim se constrói a comunidade e a sociedade em geral; assim se constroem os homens.

Padre Júlio