DA NOSSA VIDA
Casas dos Pobres
«Venho cá para agradecer!» — assim se nos dirigiu uma mãe acompanhada de um dos seus filhos. Por eles, havia intercedido a Conferência Vicentina local. A cobertura da habitação desta família necessitava de obras, e não dispunham, nem uns nem outros, de meios para as pagar. «Todos os dias tinha que mudar a cama desta minha filha para fugir aos pingos da chuva que caíam do tecto», acrescentou. De facto, a cobertura não dispunha de telhado, resumia-se à placa que havia sido forrada com tela há muitos anos, mas que, com o tempo, se deteriorou.
É neste período do Inverno, que os pobres mais nos batem à porta a pedir ajuda para a reparação das coberturas das habitações. Como diz o Povo, só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja.
Outra mãe, que habita com um filho e o marido numa casa do Património dos Pobres, trouxe carta do pároco a pedir que a ajudemos a recuperar o telhado da casa que está em mau estado pois já tem várias dezenas de anos. «Quando vim para aqui morar, o chão ainda era em terra! Fomos melhorando o interior da casa, mas o telhado não pudemos».
A paróquia tem várias casas do Património, algumas foram reparadas com apoio camarário mas, ainda assim, ficou a paróquia endividada com os gastos das obras, daí o pedido do pároco.
Fomos ver, e prometemos-lhe cobrir a maior parte da despesa na recuperação do telhado. O restante virá dos seus próprios meios, com que poderão participar nesta melhoria da sua casa.
Bem pertinho, outra casa do aglomerado está a precisar de obras urgentes no interior, cujo tecto está prestes a cair e as janelas e as portas estão em muito mau estado. Os habitantes desta são de nós conhecidos há muitos anos. Era o chefe de família, entretanto falecido, que com o seu parco rendimento sustentava a família com o pouco que sobrava dos gastos com os muitos medicamentos, que a doença lhe exigia. Pontualmente íamos ajudando, pelo que eram bem nossos conhecidos. Apesar disso, o ex-presidente da Junta local veio agora juntar-se-lhes no pedido, para que o tecto, em forro de madeira, não venha a cair sobre alguém.
Por estas bandas, não conhecemos casas do Património dos Pobres sem habitantes. Todas cumprem a sua missão. E mais houvesse... Pena é que pouco mérito lhes seja atribuído pela sociedade em geral, e ainda menor é o que lhes atribui quem tem funções de governo. Se assim tratam estas casas dos Pobres, daí se infere o valor que se atribui a quem as habita. Se não as carregassem de impostos, atendendo ao seu cariz peculiar, quem sabe se não se fariam mais casas para os deserdados da sociedade, à sua medida? Seria sinal de que o valor intrínseco das casas era apreciado e as pessoas que delas necessitam respeitadas.
Padre Júlio