DA NOSSA VIDA
Crianças
E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós... Nasceu criança e viveu criança. Escapou à morte em criança para entregar a vida na sua plenitude, com generosidade de criança.
Ser criança não é somente uma questão de idade mas um estado de vida. À infância está ligada a simplicidade, a humildade, a dependência, mas também a alegria, a esperança e a verdade. Mas se é o espírito do mundo que comanda, encontramos o oposto de tudo isto. Não rejeita ele a criança? E ainda que o não faça explicitamente, selecciona as crianças e não lhes dá voz. E ainda que a admita à vida ou a tenha mesmo como necessária, tem em vista não o valor da criança em si mas o proveito que dela pode tirar como peça na engrenagem económica dos seus interesses.
A criança vale por si mesma, é sinal objectivo de esperança para o mundo. Não encontra o ancião esse sinal contemplando uma criança, ainda que sinta chegado o fim dos seus dias? Não encontra o homem só e nostálgico a alegria na presença de uma criança?
Se não vos tornardes como crianças não entrareis no reino dos Céus. Recuperar o adulto o espírito de criança, é sinal de maturidade, que é a plenitude de vida verdadeira. Recusá-lo é anquilosar a vida e dirigi-la para a corrupção.
Rodeado, nestes dias, por tantas crianças, rapazes desta nossa Casa do Gaiato de Maputo, onde vim com o nosso Padre Rafael para manifestar e reforçar deste modo a presença da nossa Obra da Rua, e para estar com os nossos e com todos os que aqui colaboram, onde a presença efectiva, de há alguns meses para cá do nosso Padre Fernando, e de há muitos anos da Senhora Quitéria, presença necessariamente reforçada depois da ausência física do nosso Padre José Maria de há dois anos, dando continuidade ao impulso para a vida desta Casa, percebe-se o valor de quanto aqui se dá aos nossos, e de quanto fica por dar a tantos outros que nunca terão uma vida responsável, por não terem quem lhes dê a mão enquanto crianças. A estes, que se lhes poderá exigir se não lhes é dado o que necessitam na fase da vida em que a dependência a caracteriza? Mas a justiça de Deus pedirá a cada um na medida em que cada um tiver recebido.
Como aqui, o mesmo em tantos lugares do mundo. Se nuns lugares há carências noutros há excessos. Aqui, excessos de bondade e simplicidade; noutros, excessos de egoísmo e arrogância. Nestes, carências de pão e saúde; naqueles, carências de alegria e esperança.
É da responsabilidade de todos contribuir para reduzir as carências e os excessos, para que as crianças tenham na justa medida o que fará delas, no futuro, adultos responsáveis e, no presente, luz e esperança para o mundo.
Padre Júlio