DA NOSSA VIDA
A nossa Capela
No preciso dia em que há 74 anos, Pai Américo com os seus Rapazes e trabalhadores lançava a primeira pedra da futura Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, oficialmente Oratório do Santíssimo Nome de Jesus de Paço de Sousa, entreguei ao nosso compositor d'O GAIATO, Júlio Fernandes, o texto para publicar, neste número, sob o título Era o Ano I, N.º 13, no qual Pai Américo descreve, situa e traduz o verdadeiro significado do acto. Era o dia 8 de Agosto de 1944.
Vivia ainda Pai Américo com os primeiros Rapazes nos claustros do Mosteiro de Paço de Sousa, onde começou a Casa do Gaiato antes de ocupar as futuras instalações na Aldeia dos Rapazes, enquanto a construía de raiz. Por isso, nesse artigo, dizia que «os Gaiatos subiram a ladeira», eles, «os magnânimos, desejosos de perdoar ao mundo que os deixa cair, por amor da Cruz que ora levantam!»
Era o início de um acontecimento sui generis na sua vida, concretizado menos de dois anos depois do lançamento da primeira pedra. Certamente, o de maior destaque no íntimo e nas realizações impulsionadas por si. Nesta obra, projectava o dinamismo espiritual que o conduzia, o especial lugar de encontro com o Mestre: «Eu construí a Capela para mim, para mim, três vezes para mim. Suspirei por este dia. Esperei com violência. Hoje é a posse plena. A minha vida é volúpia. Ninguém faz ideia do que seja o sentir (compreender, não) na alma a presença real do Mestre, inefável Mistério a que os crentes chamam o Santíssimo Sacramento; ninguém».
A Capela é pois o Centro da nossa Aldeia. Centro, porque é ponto de partida para todas as realizações da Obra da Rua e ponto de chegada a apontar a eternidade da vida e do que nela se faz. Se outros edifícios podem ser substituídos nas suas funções, a Capela não.
No meio do largo da Capela, o Cruzeiro, a Cruz plantada a assinalar uma comunidade cristã que vive o dom recebido d'Ela. O sinal do Mistério que acolhe e transforma a vida de cada ser humano que ali chega pobre, sofredor, desenganado pela sociedade. Aqui, todo o sentido do viver de Pai Américo.
Não pode compreender a Casa do Gaiato, o trabalho e a missão dos que a ela se dedicam, quem não posicione a vida espiritual cristã como uma premissa fundamental para equacionar a nossa realidade. Os homens por si só, não passam da letra morta que mata; só a confiança que é gerada no coração humano pelo sopro de Cristo, alarga horizontes e redime o que parecia sem salvação.
Há 74 anos foi assim. Hoje continua a Obra da Rua «a caminhar pela estrada da angústia, que ele nunca houve no mundo outra diferente para as obras que deixam ficar atrás de si a sua marca».
Padre Júlio