DA NOSSA VIDA

«Somos a seara imensa»

No rescaldo do nosso convívio no dia de Pai Américo, este ano ocorrido a 22 de Julho, em que se vêem e revêem muitos daqueles que viveram e cresceram nesta nossa Casa do Gaiato de Paço de Sousa, uns já conhecidos e outros que não conhecíamos, pois são em número de muitas centenas os Gaiatos desta Casa que se foram agregando desde o longínquo ano de 1943, e com a presença dos actuais, reconhecemo-nos particularmente nesta ocasião, esta "seara imensa do trigo e do joio", expressão com que Pai Américo caracterizava a Comunidade: «Tudo quanto está dentro dos nossos muros se aproveita: O mal para que se transforme. O bem para que melhore.»

Tal como o mundo, à escala global, é para Jesus de Nazaré a seara de onde sairão os escolhidos para o reino de Deus, assim a nossa, parte daquela, cresce e se desenvolve até à sua plenitude. Toca-nos, ver o evoluir de tantas vidas e tantas famílias, o seu crescer e envelhecer renovado, sinal da resposta à chamada à vida plena que o Filho do carpinteiro nos dirigiu e a que Pai Américo correspondeu com o anseio: «Eu quero os meus filhos no Céu».

É sempre um agradável banho humano este dia de Pai Américo. É como uma pequena amostra do que virá a ser o grande Dia em que todos nos reuniremos, vindos de todas as partes, felizes porque levando os frutos da nossa vida, unidos num só pensamento e no mesmo sentimento. E aí, Pai Américo também, e todos os outros e outras, que ao longo dos anos se tornaram membros da mesma família.

Por enquanto é impossível juntar todos. Muitos dos que vêm num ano, já não voltam no seguinte em consequência dos trabalhos e conveniências naturais da vida. Lembro-me de alguns que, estabelecidos em países estrangeiros, não vieram neste ano mas estiveram em passados. Por outro lado, vi agora outros que estiveram ausentes em anteriores - as mesmas razões, certamente. Com tanta gente e dispersa pelo mundo, é infalível que assim seja. No entanto, o mais importante é que a unidade cresça e não diminua com o correr do tempo. Que a ausência não seja motivada por qualquer desconforto em estar, e a presença nasça do desejo de partilhar, com simplicidade e alegria, a vida.

Nesta seara imensa, com circunstâncias de vidas tão diferentes, que a diferença não seja causa de marginalização de nenhuma espécie mas enriquecimento e motivo de satisfação para todos. A nossa referência e causa principal de unidade está naquele que foi constituído Pai desta família que, embora deixando saudade a muitos até às lágrimas, em todos imprime o sentimento de pertença que nenhuma diferença pode excluir da unidade familiar.

Padre Júlio