DA NOSSA VIDA
Ainda o nosso lema
A nossa vida não se compraz com reflexões e conclusões
retiradas de divagações teóricas bem-intencionadas, nem com outras, neste ponto
menos, mas muito determinadas nos seus objectivos particulares. Nós partimos da
experiência que é a nossa vida, sublimada pela intuição, em sintonia com uma
tradição muito rica de valores na verdade que é e acompanha a vida do homem,
especificamente para nós, a do Rapaz. O que é essencial nele permanece,
enquanto não o desvirtuam, risco que muitos correm e, se calhar, provocam ou
assumem.
O meu pensamento, no desenrolar destas linhas, centra-se num acontecimento, cujo motivo foi uma decisiva opção de um dos nossos, entrado já crescidito na nossa comunidade.
De princípio teve alguma dificuldade em se inserir nela, e o seu pensamento vogava fixamente prós lados donde os seus familiares vivem. Apesar disso, sempre foi aplicado nas suas tarefas, escolares e domésticas, e respeitador.
Um dia, foi-lhe atribuída a tarefa de cuidar da mesa dos «Batatinhas» nas refeições. Assumiu com todo o brio a responsabilidade e não foi preciso dar-lhe muitas orientações para a cumprir a preceito. Com o tempo fez-se notar nele uma mudança, crescendo em afabilidade e disponibilidade.
Instado recentemente a mudar-se para uma instituição situada perto dos familiares, na sequência dos trâmites legais, foi peremptório em negar a mudança, manifestando uma vontade firme em continuar connosco, deixando assim claro que esta é já, também, sua família, e que somos mais que uma instituição que acolhe temporariamente os que nela precisam de estar ou um colégio descartável ou uma coisa que se usa quando necessária, mal menor, e se despreza e esquece quando já não é necessária. Este nosso Rapaz, um entre muitos espalhados pelas Casas do Gaiato da Obra da Rua, falou assim claramente que aqui há uma família, que ela se faz técnica em resolver as dificuldades ajudando ao crescimento de cada um, usando os métodos simples do serviço, do dar e dar-se para que o bem viva em cada Rapaz, com a predisposição para sofrer o mal das contrariedades quando aparecem, o joio que sempre invade o ambiente onde o trigo cresce.
Porque é assim, se vê que nem todos mergulham desta maneira neste mar, que se faz encapelado por ventos e marés que as modas do mundo, efémeras como ele, provocam na mentalidade de alguns Rapazes. Mas a força que ela parece ter, depressa é vencida pelos mansos, de que este Rapaz é exemplo, que procuram a paz e harmonia de vida, e a encontram aqui em adequado habitat.
Assim se manifesta o nosso ser Obra de Rapazes, para
Rapazes, pelos Rapazes, e o que faz jus à palavra de Pai Américo: «Somos a
seara imensa do trigo e do joio».
Padre Júlio