CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

 E SE NOS ENGANARMOS, OU NOS ENGANAREM?

Como é costume, o tema desta crónica é motivado por situações concretas pela quais vamos passando, mas que, por respeito pelas pessoas em questão, nos dispensamos de especificar aqui. Basta o sentido geral do que está em causa. Hoje o assunto tem que ver com o que devemos, ou não devemos fazer quando nos apercebemos que nos enganamos nas pessoas a quem ajudamos, ou que elas deliberadamente nos enganam.

A prática da visita domiciliária que está no cerne da acção vicentina, entre outras coisas, também serve como sendo possivelmente o melhor instrumento para prevenir, ou remediar a estes enganos. Sem desmerecer quem ajuda sem ter um contacto directo com a situação em questão, até porque, muitas vezes, não pode ajudar doutra maneira, é evidente que há sempre aqui um risco da pessoa que ajuda se enganar, ou de ser enganada. Por isso, é sempre melhor ir ver, ouvir e avaliar a situação em questão no próprio local em que ela acontece e com as pessoas que nela estão envolvidas.

Dito isto, o risco de nos enganarmos, ou de sermos enganados não pode ser desculpa para não fazermos o que estiver ao nosso alcance para ajudar. De certeza que já ouvimos várias vezes quem tenha dito frases como "Esses não devem ser ajudados porque não precisam", sem antes, quem diz isto, ter tido o cuidado de saber se é mesmo assim, ou não é. Muitas vezes vai-se pelo caminho mais fácil que aqui pode ser uma de duas alternativas:

— uma alternativa de facilidade é ajudarmos, sem o esforço de procurarmos conhecer quem se ajuda, ou de o fazermos com quem nos possa dar alguma garantia desse conhecimento;

— outra alternativa é dizermos que não é preciso ajudar, sem o esforço de irmos ao local e às pessoas em questão para sabermos se é mesmo assim, ou não é.

Se fizermos este esforço e nos enganarmos, que isso nos sirva de emenda. Se nos enganarem deliberadamente, a caridade cristã não nos diz para sermos complacentes com quem nos enganou. Há que agir e ser duro com quem nos fez isso, obviamente, dentro dos limites que essa caridade recomenda. Cristo também foi muito duro com os mentirosos e o Pai Américo que, sabia que estava sempre a correr o risco de poder ser enganado, não deixou de fazer o bem por causa disso, tendo sido também duro quando descobria que era enganado. O que o Pai Américo dizia é que podia ser enganado, mas o que não podia, nem queria era enganar alguém.

Que Deus nos ajude a procurarmos sempre a Verdade e a agirmos sempre com Verdade, sendo duros contra a mentira!

Américo Mendes