CONFERÊNCIA DE PAÇO SOUSA

Prestação de contas: Os "casos" da nossa acção vicentina

Na crónica passada prestamos contas aos nossos queridos leitores sobre a actividade da nossa Conferência, principalmente no sentido quantitativo: valores recebidos e valores distribuídos.

Ficou aí bem clara a grande importância dos contributos dos nossos leitores para a nossa actividade neste domínio: 3535 euros de donativos dos nossos leitores, num total de 6622,96 de euros de receitas não extraordinárias (retirando das receitas um donativo extraordinário de 5000 euros e outro que, na crónica anterior, foi publicado, com uma gralha, como sendo de 700 euros, quando deveriam ser 760 euros).

A crónica de hoje é mais sobre a natureza qualitativa da nossa actividade. Os leitores regulares das nossas crónicas não têm encontrado aqui, com frequência, relatos de "casos", no sentido de situações de grande miséria económica e social que facilmente tocam a sensibilidade e a generosidade do leitor. Alguns podem legitimamente perguntar-se que, afinal, não temos "pobres" para cuidar, nem necessidade de ajuda para isso.

Não é nada disso que se passa. Para compreendermos porque assim é vamos começar pelo óbvio, que, apesar de ser óbvio, às vezes se esquece. O âmbito geográfico de actuação da nossa Conferência é a nossa paróquia e não o país todo, uma região, ou uma cidade toda, ou parte dela. Se o âmbito de actuação da nossa Conferência fosse o país todo, uma região, uma cidade, ou parte dela, infelizmente, seria quase certo que, todos os dias, todas as semanas, todas as quinzenas, haveria casos de grande miséria económica a relatar.

Se tivéssemos casos deste género a relatar, com frequência, no âmbito da nossa paróquia então alguma coisa andaria muito mal cá para estas bandas, a começar pela actividade da nossa Conferência, incapaz de prevenir casos assim.

Também quando algum "caso" desses nos aparece, a privacidade que é devida às pessoas em causa e a reserva que é necessária na acção vicentina recomendam que os mesmos não sejam descritos com detalhes que permitam identificar de quem se trata, já que "O Gaiato" é lido por muitos dos nossos paroquianos.

Relembrado o óbvio, a situação ideal seria de não haver "casos" de grande miséria económica e social a relatar não só na nossa paróquia, mas também nas paróquias do país todo e do mundo todo. A situação ideal seria que, como dizia o Pai Américo, "cada paróquia cuide dos seus pobres" para que casos desses fossem atalhados a tempo e não acontecessem, ou acontecessem com muito pouca frequência.

Estando entendidos quanto ao contexto da nossa acção, pode perguntar-se se o que fazemos vale a pena e se precisa do apoio dos leitores e da comunidade, mesmo quando não se trata de ter que atender, com frequência, a "casos" de grande miséria económica e social.

Achamos que vale a pena o que fazemos, com as pessoas que temos a precisar de ajuda na nossa paróquia e, tal como as temos. Foi este o "próximo" que Deus nos deu para cuidarmos, haja muitos "casos" de grande miséria, ou poucos "casos". Se essas pessoas que são o nosso "próximo" precisam só da nossa visita domiciliária e de simplesmente conversarmos com elas, sem mais, pois que seja essa a nossa ajuda. Se essas pessoas que são o nosso "próximo" precisam da nossa visita domiciliária, acrescida da milésima advertência da nossa parte para comportamentos errados que teimam em não serem corrigidos, pois que seja essa a nossa ajuda. Se essas pessoas que são o nosso "próximo" precisam de uma pequena ajuda económica para medicamentos, renda de casa, ou outra despesa para a qual o baixo salário, ou a baixa pensão de reforma já não chegam, pois que seja essa a nossa ajuda.

Acima de tudo, o que a nossa paróquia e todas as paróquias precisam é de um organização como as Conferências Vicentinas (mas podem ser outras) atentas, em permanência, às situações de quem precisa de ajuda, e que, possa ir ver, com os seus próprios olhos, observar e analisar essas situações, de maneira a prestar logo a ajuda adequada e possível, mobilizando, também, outras ajudas complementares, sejam estas situações de grande miséria económica e social, ou não tão graves como isso, mas a carecerem de apoio.

Prevenir é sempre melhor do que remediar!

Américo Mendes