CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA
PAPA FRANCISCO: "Por uma Igreja pobre com e para os pobres" — O corpo do Papa Francisco deixou este mundo, mas a sua alma não morreu porque é eterna. Uma expressão dessa eternidade é a memória que permanecerá até ao fim dos tempos do que fez e do que disse, sempre com palavras simples e profundas. São muitas essas palavras que poderíamos aqui relembrar. Escolhemos estas que pronunciou em 30 de Abril de 2021 na recepção a uma delegação da Fraternidade Política da Comunidade "Chemin Neuf" de França:
"Caros amigos, eu vos encorajo a não ter medo de percorrer os caminhos da fraternidade e de construir pontes entre as pessoas, entre os povos, em um mundo onde tantos muros ainda estão sendo construídos por medo dos outros. Através das vossas iniciativas, dos vossos projetos e das vossas atividades, vocês tornam visível uma Igreja pobre com e para os pobres, uma Igreja em saída que está próxima das pessoas em situações de sofrimento, precariedade, marginalização e exclusão."
A Igreja e quem mais quiser cuidar bem dos pobres tem que ser pobre. Tem que ser pobre não só no desapego dos bens materiais, mas também pobre no desapego das várias formas de poderes deste mundo que exploram e marginalizam os seres humanos. Ser assim dentro e fora da Igreja sempre foi e é extremamente difícil. Veja-se como Cristo foi duríssimo com a hipocrisia dos fariseus. Veja-se como vai ser no dia do funeral do Papa Francisco com chefes de estado que criticaram agressivamente o Papa Francisco quando ele esteve ao lado dos pobres e doutros marginalizados e nesse dia lá estarão, na primeira fila, a assistir às suas exéquias para, com isso, obterem ganhos políticos.
Mas ser pobre para saber cuidar bem dos pobres não é extremamente difícil só para quem ocupa altos cargos na governação e noutras instâncias da sociedade. Ser pobre para saber cuidar bem dos pobres é extremamente difícil para todos nós.
Cuidar dos pobres não é só cuidar das pessoas que estão em situação de carência económica. Os pobres que precisam de cuidado também inclui os que são marginalizados porque são diferentes na nacionalidade, na raça, nas crenças, ou no modo de vida. Cristo escandalizou os fariseus do seu tempo quando acolheu quem eles marginalizavam por serem diferentes deles. O Papa Francisco também escandalizou muita gente dentro e fora da Igreja pelas mesmas razões. Acolheu e abençoou todos, todos, todos.
Que este seu apelo esteja sempre presente no nosso espírito e na nossa acção porque ele é tão preciso não só por esse mundo fora, mas também aqui e agora! Aqui e agora infelizmente o que vemos todos os dias é ganharem cada vez mais terreno comportamentos de apego aos bens materiais e de marginalização de quem não é como nós, esquecendo-nos de que todos somos seres humanos e filhos de Deus. Por isso, a melhor forma de prestarmos a nossa homenagem ao Papa Francisco é fazer aquilo que ele nos disse, ou seja, sermos "uma Igreja pobre com e para os pobres, uma Igreja em saída que está próxima das pessoas em situações de sofrimento, precariedade, marginalização e exclusão."
Américo Mendes