CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

Morte e Ressurreição

Chegou-nos ao conhecimento há dias o caso de uma mãe que há tempos perdeu um filho em circunstâncias trágicas e que tem outro a seu cargo que é deficiente. Disse-nos que, com o aumento dos preços, o que vai ganhando nos trabalhos que pode fazer, mais a pensão do filho, agora já não lhe chegam para pagar a renda da casa. Vamos averiguar melhor a situação, mas parece que já são daqueles estilhaços da guerra na Ucrânia que estão a chegar e que vão continuar a chegar até cá, neste caso sob a forma de aumentos de preços.

As guerras, sejam elas de que género forem, são a expressão do mal. O Mal mata, afectando geralmente mais quem é mais vulnerável. Na crónica anterior referimos o género de pessoas que mais aparecem a caminhar sobre os escombros deixados pela guerra na Ucrânia. Na sua maior parte são idosos que não puderam fugir para sítios mais seguros.

Há tempos o filho da senhora que referimos há bocado foi vítima de uma outra guerra a sério e morreu. Ele era dos filhos que mais ajudava essa senhora que assim já não pode contar com ele. Agora veio outra guerra que parece que já a está a afectar a ela e que irá afectar relativamente mais pessoas de baixos rendimentos porque as consequências da inflação são assim: o mesmo aumento de preços pesa relativamente mais a quem ganha relativamente menos.

As guerras como a da Ucrânia e como aquelas que provocamos todas as vezes em que fazemos mal a outras pessoas são causa de morte, morte essa que afectará relativamente mais quem é mais vulnerável. Esse mal perdurará para sempre durante e após a morte de quem o causou. O "ir para o Inferno para sempre" deve ser isso: o que pesa para sempre no que restar de consciência de quem causa o mal e também a memória disso que fica nas gerações que sofreram e continuam a sofrer desse mal.

A Ressurreição e o "ir para o Céu para sempre" são o contrário disso: é o que fica de Bem para sempre na memória de quem o pratica e de todos aqueles presentes e futuros que beneficiarão e lembrarão esse Bem.

Por mais e por pior que seja a morte que o Mal causa, há sempre algo que nunca conseguirá matar que é o Bem que fizermos aos outros. Esse Bem ficará para sempre incorporado no corpo e no espírito das pessoas a quem fizermos esse Bem e a memória disso perdurará para sempre. Por mais destruição que Putin, e quem mais está a comandar a guerra na Ucrânia, causarem neste país, nunca conseguirão matar a luta dos ucranianos para defenderem o direito de viverem em paz no país onde nasceram e todos os actos de dar a vida pelos outros que estão a fazer parte da luta desse povo.

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Américo Mendes