CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

A Perseverança

Na crónica anterior falámos aqui do que nos parece que deve ser o sentido adequado a dar ao agradecimento no trabalho vicentino e noutras formas de trabalho social. Também motivados por situações concretas cujos detalhes não interessa aqui especificar, hoje queremos falar da perseverança.

É muito difícil neste trabalho conseguirmos grandes mudanças de comportamento em pessoas que acompanhamos que fazem coisas que não deviam. Conseguimos várias vezes pequenas mudanças, mas essas, mesmo sendo pequenas, já valem a pena e podem fazer muita diferença para melhor na vida dessas pessoas em determinadas alturas.

Parece-nos que foi tudo tempo perdido quando alguém a quem ajudamos a dar uma volta na sua vida e até parecia estar a ir por bom caminho, depois volta ao mesmo que fazia antes.

Não conseguimos, e, neste caso, nem temos que conseguir, que uma pessoa idosa de quem cuidamos deixe de nos contar sempre a mesma história, ou nos leve quase a perder a paciência com a mesma reclamação que não faz sentido, ou ainda que já não dê atenção ao que gostaríamos que fizesse para poder viver um pouco melhor.

Nestas e noutras situações onde quase tudo nos leva a desistirmos das pessoas com as quais o nosso trabalho parece não dar frutos, mas às quais, apesar disso tudo, podemos prestar alguma ajuda que está ao nosso alcance, só há um caminho a seguir que é perseverarmos nessa ajuda.

Pode ser que, mesmo sendo pequenas, consigamos algumas mudanças no bom sentido, nos comportamentos dessas pessoas de acordo com a sabedoria popular que diz que "água mole em pedra dura tanto dá até que fura". Pode ser que quem reincide na asneira, depois de ter voltado ao bom caminho, chegue a uma hora da sua vida em que se lembre de alguma coisa que lhe dissemos ou que lhe fizemos e arrepie caminho. Nem todas as sementes que semeamos podem ter morrido na alma dessa pessoa. Também que importa verdadeiramente à pessoa idosa que já não liga ao que lhe dizemos e que nos diz sempre a mesma coisa quando o que mais interessa é que possa contar com a nossa companhia e ajuda nos seus cuidados pessoais que já não é capaz de realizar por si própria.

Que Deus nos dê força para sermos perseverantes na ajuda às pessoas a quem podemos fazer o bem, mesmo que isso pareça não dar resultado!

Américo Mendes