CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

INDIVÍDUOS "POR DEFEITO" - Numa reunião há dias das Conferências Vicentinas da nossa zona foram apresentados vários casos de pessoas idosas que vivem em condições indignas que são muito difíceis de mudar. É o caso de alguém que vive numa casa cheia de buracos, mas que não permite que sejam feitas as reparações que são necessárias. É o outro caso de quem vive sozinho, numa habitação toda suja, agora já sem saúde, nem cabeça para cuidar de si próprio, mas que resiste a encontrar-se uma solução para se lhe prestar os cuidados diários de que precisa. E outros casos do género.

Já por cá tivemos idosos assim, mas também temos agora pessoas doutras idades em situações que têm algumas características parecidas com as das anteriores.

Muitas vezes estas pessoas têm por companhia animais (cães, gatos, galinhas) com os quais chegam a partilhar a mesma habitação.

Numa sociedade que é cada vez mais individualista, pessoas nestas condições fazem parte do grupo que o sociólogo francês Robert Castel designou como sendo "indivíduos por defeito". São pessoas muito fragilizadas nas suas capacidades para serem autónomas e terem uma vida condigna: perderam o emprego e não conseguem arranjar um novo trabalho remunerado, ou já não têm capacidade para trabalhar; têm traumas profundos de vidas passadas que lhes perturbam a saúde mental; ou outras razões. Além disso, estão fora, ou estão mal cobertas pelos mecanismos da Segurança Social e as suas redes de "sociabilidade primária" (família, amigos, vizinhos) ou não existem, ou funcionam mal.

Em casos como os que atrás referidos, atitudes de impotência, desistência, ou indiferença por parte dos Vicentinos e do resto da sociedade não devem acontecer. O muito pouco que se possa fazer para ajudar este tipo de pessoas pode fazer uma grande diferença para mudar a vida delas para melhor. Pode ser o Vicentino a pessoa que liga para o 112 e assim ajuda salvar a vida dessas pessoas numa situação de emergência. Pode ser o Vicentino que, com perseverança, lá consegue que um dia se limpe a casa dessas pessoas de todo o lixo que lá se foi acumulando. Pode ser o Vicentino que ajuda a encontrar uma habitação condigna para essas pessoas e as convença a mudarem para lá. Pode ser o Vicentino que ajuda a encontrar-se uma instituição que acolha essas pessoas quando elas já perderam a sua autonomia.

Nunca podemos desistir do dever de ajudarmos o nosso próximo, especialmente o que mais precisa da nossa ajuda.

Américo Mendes