CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA
Casos muito difíceis
Nos relatos que ouvi no plenário das Conferências Vicentinas de toda a nossa diocese e sabendo o que tem sido também a actividade da nossa Conferência nestes tempos de pandemia, o que tem acontecido é o que era de esperar: mais necessidades a atender por parte das pessoas que já eram acompanhadas pelas Conferências; pessoas que foram ajudadas e que agora voltam a pedir ajuda; novos casos a atender por causa de situações de desemprego, layoff ou outras que implicaram quebras acentuadas de rendimento; nuns sítios os municípios e outras entidades públicas a reconhecerem a actividade dos Vicentinos e a trabalharem em sintonia com eles e noutros sítios não; em todos os sítios os Vicentinos a irem sempre encontrando as respostas possíveis com os meios que vão conseguindo mobilizar; passando essas respostas muito pela ajuda alimentar, ajuda para medicamentos e ajuda na habitação.
Antes de ir ao tema central desta crónica, porque referi atrás os plenários das Conferências Vicentinas da diocese, não queria deixar de dizer aqui quão pequenino me sinto sempre, quando em encontros colectivos da Sociedade de S. Vicente de Paulo como esses e outros, ouço os testemunhos simples e sem vaidades dos Vicentinos que por esse país fora vão fazendo tanto Bem, a tanta gente e tantas vezes, com recursos que são muito modestos.
A nossa Comunicação Social parece que não sabe da existência das Conferências Vicentinas. Os Vicentinos também não se põem em bicos de pés para serem eles a falar e a aparecer nas notícias quando se trata de acudir a problemas sociais, mas se fossem eles a falar e a apresentar dados sobre a sua acção social, incluindo nestes tempos de pandemia, acho que iria haver muitas pessoas neste país que iriam ficar surpreendidas.
Indo agora ao tema central desta crónica, uma questão que permanece para lá dos altos e baixos no número e diversidade das pessoas que a nossa Conferência ajuda, e outras como a nossa, é a existência de um grupo que poderemos chamar de "casos muito difíceis" que permanecem. Se estivéssemos num meio urbano grande, boa parte destes casos iriam parar à condição de pessoas sem abrigo. São pessoas que, muito fruto das famílias problemáticas donde são originárias, ou de traumas que tiveram ao longo da sua vida, têm problemas mentais e comportamentos que não ajudam nada a que sejam autónomas e capazes de poderem prover ao seu sustento e aos dos que delas dependem. Por mais conselhos, ou admoestações que lhes sejam dados, esses comportamentos não mudam. De vez em quando, esses conselhos, ou admoestações conseguem alguns pequenos resultados, mas são resultados temporários porque, depois, esses comportamentos voltam.
Pergunto-me muitas vezes sobre o que é que poderá estar ao nosso alcance para mudar estes comportamentos para melhor de uma forma eficaz, mas não consigo encontrar respostas de jeito.
Como atrás referi, se fosse num meio mais urbano do que o nosso, possivelmente boa parte dessas pessoas iriam parar à condição de sem abrigo, o que não é o caso cá na terra. Num meio mais urbano do que o nosso, como é o caso do Porto, sei do que está a ser bem feito para promover a empregabilidade de pessoas sem abrigo com perfil de empregabilidade, mas, para isso, tem sido preciso a conjugação de esforços de várias entidades a trabalharem, em conjunto e com muita persistência nesse sentido. Mesmo assim, as pessoas sem abrigo nessas condições são uma pequena percentagem do número total de pessoas sem abrigo do Porto. Por fim, há que notar que essas iniciativas são exequíveis porque se está numa localidade onde há uma concentração de pessoas sem abrigo o que não é o caso cá na terra.
Assim
sendo, se cá na terra o que se tem feito e continua a fazer por esse tipo de
pessoas é evitar que caiam numa situação de "sem abrigo", talvez seja mesmo
isto o que, de mais eficaz se vai fazendo por cá em relação a estas pessoas.
Seria melhor poder-se ir mais além do que providenciar-lhes um "abrigo"
levando-as a mudanças substanciais e permanentes nos seus comportamentos, mas
isto é muito difícil, embora nunca seja de desistir de trabalharmos nesse
sentido.
Américo Mendes