CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA
O Medo
O confinamento a que a pandemia do COVID 19 obrigou não anda muito longe do estado em que está uma boa parte das pessoas que as Conferências Vicentinas ajudam: muitas são pessoas que a idade ou outras situações limitam nas suas possibilidades de saírem de casa e que as tornam dependentes doutras pessoas para várias das tarefas da sua vida diária.
Uma novidade que a pandemia trouxe para muitas destas pessoas foi a redução nas visitas que antes recebiam de familiares e doutras pessoas com as quais se relacionavam.
Espera-se que o desconfinamento que aí vem permita um reatamento gradual desses laços sociais, mas há um risco grande que é antigo e, por isso, não surgiu com a pandemia, mas que esta pode estar a agravar e que poderá ficar por aí, com uma intensidade que o desconfinamento não irá atenuar, mas antes agravar.
Esse risco tem que ver com o medo: o medo de sairmos para a rua e de sermos contaminados; o medo de contaminarmos outras pessoas, a desconfiança em relação à pessoa do lado que, mesmo que não tenha o vírus, tosse; o medo de se perder o emprego; o medo de não se poder reabrir e recuperar a empresa; e outros medos.
Já está a haver e vai haver mais pessoas a precisarem de ajuda material (em alimentos, em medicamentos, em dinheiro) por causa da pandemia. Para este tipo de ajuda é preciso um esforço acrescido para angariarmos os recursos que são necessários, mas como vamos fazer para lidarmos com os problemas complicados que poderão vir do medo, dos nossos próprios medos e dos medos dos outros?
O medo e a ansiedade fazem parte da vida de todos nós. Mal geridos, os medos podem dar para a desgraça. Por isso, temos que fazer esforço para os gerir bem.
Gerir bem os medos que já andam por aí e que se poderão intensificar poderá ser uma das tarefas sociais mais importantes, mas, também, mais difíceis dos próximos tempos. Voltaremos a este assunto em futuras crónicas.
Américo Mendes