CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

O QUE É A POBREZA, HOJE EM DIA 

Numa volta pelos vários distritos em contacto com muitas pessoas e organizações dedicadas à acção social tem vindo frequentemente à baila a discussão sobre o que é a pobreza, hoje em dia.

Há quem ache que a pobreza, hoje em dia, já não é a privação de bens e serviços necessários a uma vida humana condigna decorrente de baixos rendimentos. Esta posição não está correcta porque, infelizmente, ainda há mais gente nestas condições do que aquilo que se pensa. Não se diga destas pessoas que estão todas nessas condições porque não se esforçam e que o que querem é viver à base de subsídios. Com certeza, que há quem assim se comporte, mas que isso não nos faça esquecer todos os outros que realmente vivem mal e que não têm possibilidades de sair dessa situação sem uma ajuda solidária.

Dito isto, também não está correcta a posição dos que não conseguem ver outras formas de pobreza que estão em desenvolvimento, para além dessa pobreza material. Para não falar de todas, ficamo-nos hoje por uma delas. É a pobreza dos que se deixam seduzir pela afluência de bens materiais que a economia em que vivemos vai produzindo em cada vez maior quantidade e diversidade e que nos quer induzir a ir comprando.

Mesmo que as famílias se esforcem por educar as suas crianças e jovens com comportamentos de moderação no consumo e de partilha solidária, o que essas crianças e jovens observam na escola e noutros locais fora de casa em termos de consumo por parte doutras crianças e jovens muitas vezes vai ao contrário, ou mesmo destrói, esses bons comportamentos que podem ter aprendido em casa.

Cada época tem as suas dificuldades próprias, mas não se pode dizer que hoje em dia está mais fácil educar as crianças e os jovens no sentido da moderação no consumo e da partilha solidária. Não se pode dizer que hoje em dia está mais fácil educar as crianças e os jovens no sentido do que deve ser verdadeiramente importante na vida. Ora, se falharmos neste domínio, estaremos a criar novas formas de pobreza, formas essas que não se combatem eficazmente com ajudas de natureza material.

Sinceramente, acho que há muito a fazer em relação a este assunto e que não está a ser feito pelas pessoas e organizações dedicadas à acção social, incluindo ao nível das Conferências Vicentinas, com essa acção ainda muito focada na ajuda material através do dinheiro e dos géneros a distribuir. Quando este dinheiro e estes géneros acabam, ou rareiam, parece o fim do mundo porque não há nada a fazer, quando, de facto, há muito mais para fazer.

Américo Mendes