CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA
«Para Deus não há acepção de pessoas» (Rm 2,11)
Ainda é uma característica importante desta época natalícia o reencontro de famílias e o envio de mensagens de amizade a pessoas de quem se gosta e que não é possível encontrar pessoalmente. Isto é bom, mas não chega para compensar o muito que há por fazer para combater o que, nas sociedades actuais, prejudica as boas relações interpessoais sem as quais os seres humanos não podem viver uma vida feliz.
Num encontro, há dias, com jovens que estudam os direitos humanos e estão envolvidos em iniciativas de promoção destes direitos, o "aperitivo" para a reflexão foi um filme que trata muito bem uma situação que contribui para essa crise das relações interpessoais. Essa situação é a grande frequência com que olhamos os outros com base em estereótipos, em vez de procurarmos olhar para cada pessoa tal como ela realmente é.
Com efeito, muitas vezes olha-se primeiro para o sítio onde a pessoa nasceu, ou onde vive, para a cor da pele, para os títulos académicos, para a maneira de vestir, ou para outros sinais que permitam rapidamente rotular a pessoa de forma positiva, ou negativa, sem se fazer um esforço para a conhecer como ela realmente é. É deste tipo de comportamento que se alimentam muitas das situações de exclusão social e de violência no mundo de hoje.
Se os Vicentinos querem, de facto, combater a exclusão social e serem construtores de paz e de justiça social têm que evitar eles próprios este tipo de comportamentos e têm que contribuir para que as outras pessoas não os tenham.
A maneira como Deus encarnou e veio a este mundo, no presépio, é um apelo fortíssimo para não cairmos em estereótipos. Se nos deixássemos orientar por estereótipos, como é que alguma vez poderíamos ver alguém que é Deus a nascer num presépio em Belém?
O modo de actuar distintivo dos Vicentinos que é a visita domiciliária, se esta for praticada como deve ser, é um bom antídoto contra olharmos o outro com base em estereótipos.
Que Deus nos ajude a vencermos esta tentação muito forte de nos deixarmos levar por estereótipos e nos ajude a sermos capazes de estarmos atentos aos que são o nosso próximo como sendo seres humanos que precisam do nosso cuidado e que também podem cuidar de nós.
Américo Mendes