CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

"Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca." (Lc 5, 4)

Conhecemos todos a chamada "pesca milagrosa" que S. Lucas situou no tempo da vida terrena de Cristo, mais precisamente, no conjunto dos milagres que Ele fez em Cafarnaum, e não depois da Sua Ressurreição, como fez o evangelista S. João. Para pregar à multidão que O queria ouvir junto ao lago de Genesaré, Jesus subiu para um barco que estava na margem e que era de Simão. Quando acabou de pregar disse a Simão: "Faz-te ao largo e lança as redes". Simão respondeu: "Mestre, trabalhámos durante toda a noite e nada apanhámos, mas, porque Tu o dizes, lançarei as redes". Assim fizeram e apanharam uma grande quantidade de peixe.

Foi assim que começou o chamamento de Jesus a Simão e foi assim que começou sua resposta a esse chamamento. Note-se que não se tratou de um chamamento qualquer, nem do chamamento a uma pessoa qualquer. Tratou-se do chamamento àquele a quem Jesus confiou a responsabilidade de ser o primeiro líder espiritual da Sua Igreja.

Dito isto, esta situação pode parecer-nos algo de extraordinário, que só aconteceu com Simão e que é irrepetível. Talvez esta situação seja irrepetível nos seus detalhes, mas não é irrepetível naquilo que aqui deve ser visto como sendo o mais essencial.

Todos nós, todos os dias, incluindo naquilo que possamos fazer na nossa actividade vicentina, ou noutra do género, "andamos à pesca" do que achamos que é preciso para vivermos. Só que "andamos à pesca" à nossa maneira. Por isso, muitas vezes, apesar dos nossos esforços, mesmo os esforços bem intencionados, não conseguimos "pescar nada". Quando isto acontece ficamos infelizes, frustrados, zangados com o mundo e até com Deus.

Acontece-nos isto porque não temos os olhos, os ouvidos e a alma num estado de atenção capaz de captar o chamamento igual ao que Jesus fez a Simão e que Ele também dirige a todos nós, todos os dias: "Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca.". Também não temos a fé suficiente para acreditarmos que tudo o que for resposta a esse chamamento divino terá bons frutos, ou então não temos olhos para vermos os frutos que são bons aos olhos de Deus, porque só temos olhos para vermos os frutos que nos interessam e que podem não ser esses que Deus quer de nós.

É por isso que é muito difícil fazermos as "pescas milagrosas" para as quais Deus nos chama todos os dias, pescas essas que, tal como Simão, também seremos capazes de fazer, se nos comportarmos como ele se comportou quando respondeu ao chamamento divino.

Isto vale para todas as áreas da nossa vida, incluindo a nossa actividade vicentina, ou outra do género que possamos ter.

Américo Mendes