CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

GUERRAS — Estamos todos horrorizados com as atrocidades que temos visto nos noticiários sobre as guerras na Ucrânia e na Palestina. Pode pensar-se que se trata de um assunto que não é para aqui chamado porque são guerras que estão a acontecer em locais distantes deste onde vivemos e em relação às quais nada podemos fazer para ajudar a que possam acabar.

É verdade que são guerras que acontecem longe deste nosso jardim à beira mar plantado do qual também se diz que é um país de brandos costumes, mas dizer que não temos as nossas guerras já não é verdade. Também não é totalmente verdade dizer que essas e outras guerras em sítios distantes não nos dizem directamente respeito e que nada podemos fazer para ajudar quem está a sofrer com elas.

Numas regiões do país, noutras menos, mas também cá pelas nossas terras, temos refugiados e outros imigrantes que nos chegam a precisar da nossa ajuda, imigrantes esses que foram obrigados a deixar as suas terras para poderem sobreviver a guerras e a outros conflitos que afectam os seus países.

Mas as guerras em terras distantes da nossa também nos podem e devem levar a pensar nas que temos por cá e sobre as quais temos que fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar ou terminar. Temos guerras dentro de famílias que, por vezes, geram tragédias. Temos guerras dentro de Conferências Vicentinas que, por vezes, levam à sua inactividade, ou mesmo encerramento. Temos guerras entre Conferências Vicentinas e párocos afectando uma relação muito importante entre estas duas entidades que se deveriam entender o melhor possível. Poderíamos continuar aqui a lembrar mais exemplos de guerras que não acontecem lá longe, mas por cá e nas quais poderemos estar directamente envolvidos. São, por isso, guerras nas quais temos a possibilidade e o dever de agir para as evitar ou terminar.

Tal como nessas guerras que acontecem lá longe, também nestas e noutras que temos por cá quem mais sofre são sempre os mesmos, mais precisamente as pessoas em situação vulnerável. Estas são o tipo de pessoas às quais as Conferências Vicentinas devem prestar a sua atenção prioritária. Se virmos bem, na origem de situações de carências de vários tipos a que as Conferências Vicentinas vão acudindo há, muitas vezes, alguma forma de guerra.

Antes de terminar só mais uma nota a propósito das guerras lá longe. Certamente que nos causa a maior admiração os exemplos de grande coragem de pais, avós, crianças, jovens, profissionais da saúde, socorristas, voluntários e outras pessoas que cuidam das vítimas desses conflitos arriscando as suas próprias vidas. Como disse C. S. Lewis, "a coragem não é simplesmente uma das virtudes, mas sim a forma de todas as virtudes no seu ponto de teste." Por isso, as pessoas verdadeiramente corajosas e não as que as que têm uma falsa coragem que não é mais do que fanfarronice ou atitude de superioridade relativamente a outros, são pessoas que têm algum tipo de virtude: amam muito os seus familiares, não ficam indiferentes relativamente ao seu próximo que sofre, são bons profissionais dedicados às pessoas que a sua profissão serve.

Que as Conferências Vicentinas e outras formas organizadas de servir o próximo ajudem a que quem nelas trabalha cultive as virtudes e a verdadeira coragem que vem ao de cima quando alguma forma de guerra acontece.

Américo Mendes