
CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA
"DÊ SÓ SE NÃO LHE FIZER FALTA"
Encontrei há dias uma pessoa que, em tempos, foi ajudada de forma esporádica. Como não vive cá, não dá para acompanhar a situação de perto, mas deu bem para ver que continua a precisar de ajuda.
Não me pediu nada, mas fiz por ela o que pude na altura, tendo-me dito o seguinte: "Dê só se não lhe fizer falta."
Como é natural, nas pessoas que ajudamos há de tudo. Há quem tenha atitudes como a desta pessoa, não pedindo mesmo quando estão a precisar muito de ajuda. Há os que pedem quando precisam e que depois nos informam quando deixam de precisar. Alguns destes depois retribuem a outros em situação de necessidade o que foi feito por eles quando precisaram de ajuda. Também há os oportunistas que procuram ocultar a sua verdadeira situação e que insistem em pedir ajuda, mesmo quando não precisam dela.
O que me disse a pessoa que atrás referi, fez-me lembrar o que Jesus disse sobre a oferta da viúva pobre: "Esta viúva pobre deu mais do que todos os outros, pois eles deram do que lhes sobejava, enquanto ela, na sua pobreza, deu tudo o que tinha para viver (Lc 21, 2).
Certamente, ao falar assim, Jesus não queria dizer que não se deva dar a quem precisa daquilo que nos possa sobejar. Certamente Deus não quer que nos falte aquilo de que precisamos para viver de forma condigna. Se todos dessem alguma coisa do que lhes sobeja, para além do que é necessário para viver de forma condigna, haveria muito menos pobreza no mundo.
O que Jesus deve ter querido dizer é que o dar ao próximo que precisa de ajuda tem que envolver alguma forma de dádiva de nós próprios, da nossa própria vida. No caso da viúva pobre foi o ela dar algum dinheiro de que precisava para viver, mas do qual abdicou em favor doutras pessoas que estariam a precisar mais do que ela desse dinheiro. Noutros casos, pode ser abdicar em favor do próximo do tempo de que precisamos para fazer outras coisas de que gostamos, ou que também precisamos de fazer. Também pode ser, por exemplo, tratarmos as outras pessoas com simpatia e respeito, quando o dia nos corre mal e o que mais nos apetece é ralhar contra tudo e contra todos. Pode ser, ainda, fazer como a pessoa que atrás referi que é não querermos coisas de que possamos gostar ou mesmo precisar, pensando antes noutros a quem essas coisas podem fazer mais falta do que a nós.
Por coincidência, ou talvez não, a pessoa de quem tenho estado aqui a falar, também é viúva e também é pobre. Ao dizer-me o que me disse, ao seu jeito, ela fez o mesmo que a viúva pobre de que Jesus falou. Por isso, foi Ele a falar-me na pessoa dela. Jesus anda aí pelas ruas e pelos outros sítios por onde caminhamos todos os dias, a mostrar-nos o caminho a seguir, assim O consigamos ver e ouvir, coisa que muitas vezes não acontece. Por isso, que Ele nos dê olhos de ver, ouvidos de ouvir e um coração para amarmos o próximo que mais precisar da nossa ajuda!
Américo Mendes