CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

As Conferências Vicentinas e a crise de valores

Chegam-nos quase todos os dias notícias de situações de violência doméstica, actos de vandalismo, aumento do números de condutores alcoolizados, alunos e pais de alunos que batem em professores, ou noutros alunos, adeptos desportivos que praticam actos de violência contra outros adeptos e outras pessoas, actos de racismo e outras situações que têm em comum o desrespeito pelos valores de dignidade da pessoa e da vida humana.

Boa parte, se não quase todo o debate público sobre estes problemas, fica-se pelas dimensões da lei e do seu cumprimento para prevenir as situações atrás referidas e sancionar na prática esses actos condenáveis.

Com certeza que são precisas as leis e quem as deve fazer cumprir, mas isso não basta. É preciso ir ao fundo da crise de valores donde este tipo de actos brota. É preciso que nas famílias e nas comunidades haja mais e melhores espaços de aprendizagem e de prática dos valores de Solidariedade Social, ou melhor de Caridade no sentido de Amor ao Próximo que o 1.º Mandamento de Lei de Deus preconiza.

As Conferências Vicentinas são, ou devem ser espaços de aprendizagem e prática desses valores que são para todos, sejam crentes e não crentes. Se para os crentes cristãos o termo aqui mais apropriado é o da Caridade, use-se outro como o de Solidariedade Social, ou partilha solidária se isto ajudar a juntar forças com quem é não crente, mas que também trabalha, ou pode ser motivado a trabalhar em prol destes valores.

Esta Caridade também tem que ser para dentro da própria Igreja. Quando numa diocese como é a nossa onde, de muito longe, as Conferências Vicentinas são o movimento de acção social com mais implantação a nível paroquial, não há Caridade nenhuma, bem pelo contrário, quando não se faz o que deve e pode ser feito para desenvolver ainda mais a implantação das Conferências Vicentinas. Não há Caridade nenhuma, bem pelo contrário, quando uma Conferência Vicentina se fecha sobre si própria, ou, pior ainda, se desvincula da Sociedade de S. Vicente Paulo e se transforma em grupo socio-caritativo paroquial.

Com certeza que os Vicentinos têm a responsabilidade primeira de praticarem a Caridade não só para com o seu Próximo mais necessitado, mas também entre Vicentinos e entre as suas conferências. Dito isto, também cabe uma grande responsabilidade a párocos, bispos e outros responsáveis eclesiásticos de ajudarem os Vicentinos no seu trabalho, de o divulgarem às suas comunidades cristãs e ao resto da sociedade e de não contribuírem por acção, ou omissão, para nada que faça enfraquecer estes espaços de aprendizagem e de prática da Caridade que são as Conferências Vicentinas, espaços estes de que o mundo de hoje tanto precisa.

Américo Mendes