CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA

Há Pobres?

A redução na taxa de desemprego, patrões que se queixam de não conseguirem recrutar trabalhadores de que precisam, algum aumento nos rendimentos de muitas famílias, o que vemos por aí nas ruas, nos centros comerciais, nas estradas e autoestradas, tudo parece indicar que há cada vez menos pobres.

É verdade que o país já não é o que era há 50 anos atrás em termos de pobreza. É verdade que as estatísticas sobre a pobreza e as desigualdades sociais, continuando a colocar Portugal na "Liga dos últimos" na União Europeia, registaram algumas pequenas melhorias nos últimos anos. O que também é verdade é que no trabalho dos vicentinos e de todos os que se preocupam em fazer com que todas as pessoas possam viver com dignidade, o que conta não é o que as aparências, ou as estatísticas mostram, mas sim as pessoas, cada uma das pessoas que esteja em situação de privação de condições para ter uma vida condigna.

Por isso, lá vão aparecendo a bater à porta das nossas Conferências, ou nós vamos descobrindo desempregados em situações de idade e outras que não lhes permitem encontrar trabalho facilmente, trabalhadores em situações precárias, ou em áreas de actividade onde o poder reivindicativo é muito fraco, pessoas muito pouco escolarizadas e para as que já não é fácil melhorar o nível de escolaridade e a qualificação profissional, jovens em dificuldades de transição para o mercado de trabalho, as pessoas portadoras de deficiência, imigrantes, mulheres que, muitas vezes, são mais penalizadas do que os homens quando toca a desigualdades sociais. Não esquecer, também, todos aqueles que, podendo até ter alguns recursos económicos, vivem sós, ou quase sós, sem familiares e amigos próximos, ou com familiares que pouco lhes ligam.

Por isso, infelizmente, as desigualdades sociais, a pobreza e outras formas de exclusão e isolamento social continuam a andar por aí se as quisermos procurar e se as soubermos ver. Poderão já não estar nos mesmos sítios, ou ter as mesmas formas do que noutros tempos, mas continuam a existir. Assim sejamos capazes de ter olhos para as ver, ouvidos para as ouvir e mãos e coração para lhes dar a ajuda fraterna que pudermos.

Américo Mendes