NOTA DA REDACÇÃO 

 LIÇÕES DE ANTES, DURANTE E DEPOIS DA PANDEMIA

Este aniversário do nosso jornal acontece numa altura em que o nosso país e o resto do mundo já sofreram um ano de pandemia do COVID 19. Os testemunhos que são transcritos neste número d'O Gaiato mostram que a pandemia não afectou o apreço que os leitores têm pelo nosso jornal e pela Obra da Rua. Bem-hajam por isso!

Mesmo que muitos possam já estar cansados de ouvir falar deste assunto, não queríamos aqui deixar de referir algumas lições que se devem tirar desta pandemia.

Uma é de que há problemas sociais que não afectam directamente só as pessoas ditas "pobres", mas também pessoas de todas as condições sociais. Todos somos seres vulneráveis. Todos podemos precisar uns dos outros. Ninguém escapa porque é mais jovem, porque sabe mais do que os outros, porque tem dinheiro ou uma posição social que lhe dá poder. Somos todos pó e em pó nos haveremos de tornar. À morte biológica só escapa a nossa alma que não é algo de abstracto, mas sim a vida que vivemos com esse pó de que somos todos feitos. A nossa alma é o legado dessa vida que vivemos e que ficará para sempre quando o nosso corpo se voltar a reduzir a pó.

Outra lição que fica da pandemia é que há problemas sociais que não se resolvem atirando a responsabilidade dessa resolução só para algumas pessoas e entidades (o Estado, as IPSS, as Casas do Gaiato, etc.). Ou todos colaboramos nisso, ou então sofremos todos.

Por fim, uma terceira lição que queríamos aqui referir. A ocorrência da pandemia levou a um uso muito mais intenso do que antes das chamadas novas tecnologias da informação e da comunicação (comunicações, reuniões, aulas e outras actividades através de telemóveis, da internet e doutros meios de comunicação à distância). Não há dúvida que estas tecnologias ajudaram a compensar parte das consequências negativas do "distanciamento social", mas isso não invalida a muito grande e insubstituível importância das relações interpessoais. Precisamos de dar e de receber carinho através do contacto pessoal e directo. Não há telemóveis, computadores, internet, medicamentos ou outras coisas que possam substituir esse carinho de que precisamos e que devemos dar aos outros, especialmente àqueles que estão numa situação vulnerável.

Não foi preciso a pandemia para que estas lições estivessem presentes no que se vai relatando e escrevendo neste jornal, mas também não há mal nenhum em que voltemos a reflectir sobre elas.

Os nossos votos de boa saúde para todos os leitores e respectivas famílias.

Américo Mendes