CAPELA

Casa do Gaiato de Paço de Sousa

Eu construí a Capela para mim, para mim, três vezes para mim. Suspirei por este dia. Esperei com violência. Hoje é a posse plena. A minha vida é volúpia. Ninguém faz ideia do que seja o sentir (compreender, não) na alma a presença real do Mestre, inefável Mistério a que os crentes chamam o Santíssimo Sacramento; ninguém.

Temos necessidade de duas imagens. Uma de Francisco de Assis e outra de Vicente de Paulo. Estas imagens hão-de ser feitas em Coimbra, pelo João Machado, de pedra de Ançã. A de S. Vicente de Paulo será um nadinha mais cara, por causa das duas crianças com que o santo se apresenta: uma pela mão e outra ao colo. Mas a de S. Francisco não deve ir muito além de dois mil e quinhentos escudos. Para sermos práticos, o que mais convém é que a pessoa interessada me dê instruções e eu mande executar. As imagens são de um metro de altura.

Outra coisa: Também temos necessidade de azeite para a lâmpada. Azeite que traga a marca da tua devoção. Duas chamas silenciosas diante do sacrário: o teu azeite e a tua vida. É um pequenino vadio de ontem que espevita! É o rebotalho que se dignifica. Um mundo que melhora. Tu, leitor querido, de onde estás, com a tua oferta emprestas um bocadinho de luz a este quadro de Luz.

Grande título tenho de pedir. Grande título tens tu de dar.

Padre Américo

in OBRA DA RUA, 5.ª edição, pp 110-111