CALVÁRIO - Voz aos Doentes

No passado dia 3 de Junho, completei mais um ano de vida. Já lá vão 48. Ontem, ao almoço, celebrámos o meu aniversário. Vieram amigos, ofereceram bolo e cantaram-me os parabéns. Fiquei na mesa do Padre Telmo. Todos me cumprimentaram. O Zé, como sempre, mais efusivamente. Eu estou muito feliz. Às vezes faço birra e não sei o motivo e não sei explicar aos outros porque acontece, ainda que a D. Esmeralda me pergunte o que se passa. Procuro ajuda e procuro obedecer fazendo o que me pedem. Aqueles pequenos gestos que ainda posso fazer faço, como comer pela minha mão. De resto passo o meu tempo na minha cadeirinha de rodas, no meu cadeirão, no meu quarto. Integro-me nas actividades terapêuticas e gosto de sair em passeio. Fico radiante quando chegam visitas. Gosto de música e de tocar o meu tambor, quando a Irmã Laíde nos põe a tocar instrumentos tradicionais e a cantar.

No meu aniversário levaram-me à capela para a celebração da missa, já depois do jantar. Demos graças a Deus pela minha vida e pela vida que vivo com os outros membros do Calvário. Há muitos anos que estou cá. É a minha casa e a minha família. Sentados ao meu lado tenho sempre as minhas coisas: os legos, os livros, os meus trapos, as minhas memórias que cuido com amor. O meu corpo é frágil, torcido, o meu olhar às vezes perdido. Deus deu-me uma alma generosa que se manifesta no sorriso largo que procuro oferecer a todos. Isso não custa nada, não tem preço! Faz-me bem e creio que é o meu melhor contributo para o Calvário. Obrigado pelo bem que me fazem. Obrigado.

Luísa