CALVÁRIO
Na passada sexta-feira, dia 12 de Dezembro, o Calvário foi convidado pelo padre Sérgio Leal e a Paróquia de Guetim – Espinho, para partilhar a sua experiência de esperança no contexto do ano jubilar 2025 — Peregrinos de Esperança: tempo especial de graça, reconciliação e renovação espiritual — e do tempo de advento que vivemos. Estavam presentes a comunidade cristã paroquial, o Enfermeiro Daniel da Medicina Interna e dos Cuidados Paliativos de Hospital de Santo António e a Carmo Fernandes dos Albergues do Porto, que foi durante muito tempo directora dos Leigos para o Desenvolvimento. Um painel bem diversificado e abrangente que soube cativar a atenção dos presentes numa noite fria e chuvosa.
Coube a cada um uma intervenção para, a partir da realidade concreta, acenar sobre o tema da esperança. Nós falámos da intuição do fundador, Pai Américo, em criar nos anos 50 do século passado, um hospital para cuidar de doentes em fim de vida, onde pudessem integrar a experiência espiritual e humana do peso da Cruz. Peso que não os atirasse ainda mais para o chão, mas que os redimisse e salvasse. Assim foi durante seis décadas, até que esta esperança foi posta em questão. A intervenção do Estado na instituição, através da Segurança Social, levou à retirada de alguns doentes da Casa. Fizeram-se obras de recuperação dos edifícios, legalizou-se a missão desempenhada na Casa e estamos a recuperar o carisma e as premissas do espírito da instituição: lugar familiar para doentes sem família ou que a família não possa de todo cuidar, lugar espiritual de redenção humana e cristã, como sempre Pai Américo e Padre Baptista procuraram fazer ao pé do Evangelho e modo evangelizador.
Dissemos que para sermos pessoas de esperança, dos que acreditam como Paulo que é nela que fomos salvos (Romanos 8,24), é necessário perdê-la em algum momento. Basta deixar-se tomar pela experiência dos discípulos de Emaús, aqueles que fogem de Jerusalém com a convicção que Jesus é um falhado. Disse que os salvaria, mas há três dias está preso ao sepulcro! Gente sem entendimento. Lenta. Sem esperança. O símbolo da virtude da esperança é precisamente uma figura feminina que sustenta uma âncora. Ora sabemos que a função da âncora é prender o barco ao fundo do mar. É preciso descer ao fundo das nossas seguranças e perdê-las para experimentar a esperança e aderir a ela. É o Senhor quem salva e não as nossas iniciativas e projectos, embora sejam necessários e devam ser realistas e concretos face à realidade a ser trabalhada. É a relação com os outros e a confiança estável que nos sustentam e não o nosso individualismo egoísta e demasiado mundano, tantas vezes expresso com ódios e violências de várias ordens e géneros.
Sermos discípulos e testemunhas de esperança é acreditar, esperar e expressar aquilo que ainda não vemos, mas conhecemos a sua existência pela promessa de Jesus. Não duvidar disso, não o substituir por activismos doentios e frenéticos que só nos fazem perder o centro de nós mesmo, que é o nosso Criador e o seu Filho que nos vais ser dado humanamente pela Senhora da Esperança, ela que está neste Advento, mais uma vez, de esperanças.
O Calvário de Beire – Casa do Gaiato é um lugar de esperança porque todos os dias tocamos a fragilidade dos seus membros, não para a anular ou esconder, mas para a revelar e revelando seja ela própria manifestação do amor de Deus e da sua vontade salvífica. Por isso durante décadas foi um lugar privilegiado e de graça para todos os que aqui quisessem morar e pudessem estar como voluntários ou como visitas. Assim queremos que seja também hoje, a afirmação da esperança que não engana: hoje estarás comigo no paraíso (Lucas 23, 43-44).
Padre José Alfredo
