CALVÁRIO

Por cima das nuvens mais escuras

há sempre uns fiozinhos de ouro.

Padre Telmo Ferraz

O mês de Novembro foi especial para o Calvário. Além de termos acolhido uma nova doente, a Luísa Mendes, que vivia sozinha numa casinha com poucas condições, não longe de nós, mas que desconhecíamos, foi uma antiga voluntária que nos apresentou o caso, uma casinha e uma baixa pensão que o trabalho doméstico na Foz do Douro durante anos acabou por lhe garantir, dizíamos, celebrámos vários aniversários como Acção de Graças. O Álvaro, nascido em Benguela; o Padre Baptista, rosto do Calvário durante seis décadas; o Diamantino, nosso acamado; a Adelaide, cuidadora delicada de outros tempos; o Padre Telmo, menino de Bruçó que abraçou Portugal e Angola num só gesto de amor. Este grande apóstolo da caridade entre barragistas do Douro e do Kuanza e meninos de Malange fez 100 anos. Celebrámos a 25 de Novembro a eucaristia presidida por D. Roberto Mariz aqui em Casa e almoçámos juntos com a família de sangue, amigos e gaiatos. Foram muitos os que nos visitaram para estar com o Pai Telmo, que a todos e a cada um em particular acolheu e saudou com saudade e emoção. Ao final da tarde reunimos na Quinta das Arcas, em Sobrado – Valongo, mais um grupo de amigos da Obra e os senhores bispos do Porto, Bragança-Miranda e Braga, que quiseram estar presentes nesse momento de gratidão e alegria como disse o aniversariante a uma sala cheia. O Padre Telmo é um património humano e espiritual da Obra da Rua. A sua vida e ministério falam intimamente da missão de proximidade aos pobres para lhes devolver a dignidade roubada, que o tempo e as circunstâncias, e não raras vezes, a ganância humana provocam ao seu semelhante. Na ocasião, além da amizade de muitos, recebeu do Presidente de Angola, Dr. João Lourenço, uma medalha comemorativa dos 50 anos da independência do país que lhe reconheceu o trabalho a favor da paz e de desenvolvimento em Malanje a partir da Casa do Gaiato.

Gratidão e alegria para todos foram as palavras que repetiu, ainda, na sua terra natal onde a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal atribuíram o seu nome a uma rua da aldeia que outrora calcorreou para ir ver correr o Douro. Nesses tempos também ele corria. Hoje o seu passo é mais lento, mas igualmente firme e decidido a viver cada dia em contemplação e acção. O Padre Telmo encarna, para os dias de hoje, o espírito dos místicos activos, daqueles que olham as pessoas e a natureza e as coisas criadas pela humanidade com bondade e nesse olhar elas tornam-se belas. Dizia ainda que: no coração humano cabe tudo. É maravilhoso, é uma imensidão. Cabe o amor de todas as pessoas que conhecemos. Cabe tudo no nosso coração. É extraordinário.

Bem-haja Padre Telmo. Deus continue a abençoar a sua vida e ministério e aos que temos a oportunidade de conviver todos os dias e cada dia consigo que saibamos aprender a humildade generosa e desprendida de amor aos irmãos em Jesus. Nós também lhe desejamos muita paz.

Padre José Alfredo