CALVÁRIO
Reivindicamos direitos onde só a graça atua e, por isso, tornamo-nos ingratos. Respiramos o principal veneno da vida espiritual: a ingratidão autojustificada. Romper a solidão.
Erik Varden, Lucerna, p. 42.
No contexto do processo de actualização que se vive no Calvário, recebemos a comunicação oficial do Estado, através dos seus órgãos competentes [Núcleo de Respostas Sociais, Unidade de Desenvolvimento Social – Centro Distrital do Porto], da autorização de funcionamento legal (despacho da Senhora Adjunta de Segurança Social com data de 2025-09-30) para acolhimento de pessoas idosas e doentes nos espaços recentemente reabilitados. É um passo mais neste caminho que vem a ser percorrido há 71 anos. Acreditamos que este seja o reconhecimento, por parte das autoridades competentes, do lugar próprio e específico do Calvário no panorama da prestação de cuidados de saúde e humanização em Portugal, onde fomos pioneiros no conceito de cuidados terapêuticos e paliativos.
Há muitos membros que vivem cá há décadas, outros que chegaram recentemente, vindos de diferentes geografias sociais e culturais. Há quem esteja agora a ser cuidado e que no passado cuidou com toda a caridade em diversos sectores da sociedade. Há quem tenha estado na Obra e quem só agora contacte com ela.
Neste saudável desenvolvimento contamos com a ajuda de novos colaboradores, sejam profissionais, sejam voluntários ou amigos. O grande desafio que se apresenta para o Calvário é manter o carisma e a intuição do fundador, Pai Américo: que seja um lugar de Redenção - lugar de doentes, para os doentes, procurando o centro, que é Cristo, através do rosto, das histórias pessoais e das debilidades deles, os doentes.
A sociedade pós-moderna, mais sensitiva, deu lugar à sociedade líquida, profundamente descartável. O Calvário quer ser uma resposta da Igreja, através da Obra da Rua, para desmontar essa cultura de descarte. Preconceito onde os doentes incuráveis, os abandonados, os pobres e os sós contam apenas como número e não como pessoas com um percurso existencial e antropológico que é preciso respeitar e manter vivo até ao fim de vida.
O Calvário é um lugar de diálogo: entre os seus membros; com quem os serve; com aqueles que os visitam; com múltiplas instituições – hospitais, centros de saúde, organizações sociais, empresas; com outras casas e organizações que procurem objectivos similares ao nosso.
O Calvário, nesta fase, procura abrir-se à sociedade para melhor a compreender e servir, à luz do que pedia o Concílio Vaticano II na Gaudium et Spes e à luz do processo sinodal que o Papa Francisco desejou implementar na vida da Igreja e das suas instituições. Procuramos estar disponíveis para gerar novas casas, como a que está a ser pensada para Malanje e quem sabe um dia também Benguela.
Padre José Alfredo