
CALVÁRIO
Ninguém ama como as crianças. Soubéssemos nós amá-las! […] Oh mundo, arrepende-te! Oh mundo, fecha os calaboiços à Criança e abre-lhes o teu coração!
Isto é a Casa do Gaiato. Vol. 2, 3,ª ed, p. 138.
Paço de Sousa. 2004.
Escrevo pouco depois da leitura dos jornais digitais de segunda-feira 25 de agosto, que noticiavam mais um massacre em Gaza. As forças de Israel atacaram o hospital Nasser, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza e morreram 20 pessoas, incluindo 5 jornalistas. O primeiro-ministro de Israel classificou o acontecimento como um "trágico acidente" que visava comandos do Hamas que operavam a partir do hospital. Não faltaram as condenações internacionais (ONU e OMS) e internas (manifestações em Telavive e Jerusalém no dia de solidariedade com os reféns em Gaza e pelo fim da guerra). O fim da guerra estará para quando?
As reuniões ao mais alto nível mantêm-se agendadas para o Qatar e para Washington, com a finalidade de negociar um cessar-fogo e criar condições de entrega dos reféns e prisioneiros de ambos os lados. As famílias precisam dos seus familiares raptados ou mantidos prisioneiros só porque estavam na hora e lugar errados!
A Igreja tem rezado pelo fim do conflito em Gaza. E procede bem ao fazê-lo. Não deixa de ser terrível que não se faça mais qualquer coisa! Um pedido de visita do Papa à Terra Santa! Uma conferência de paz que junte líderes políticos e religiosos! O envio de mais ajuda humanitária! A criação de projectos de pacificação do território como o reconhecimento por parte das nações do Estado da Palestina e da sua legítima autoridade eleita; a reconstrução material das habitações e infraestruturas (estradas, hospitais, escolas, etc); a possibilidade de organizações cristãs se implantarem no território com base no diálogo religioso e no carisma próprio de cada uma (Filhas da Caridade de Madre Teresa, Obra da Rua do Padre Américo, etc). Há feridas que é preciso tratar e limpar imediatamente.
As imagens de destruição dos edifícios e do estado de subnutrição de algumas crianças são aterradoras, apocalípticas. O que diria hoje Pai Américo se as visse? O que nos pediria que fizéssemos? Deixemos que esta interrogação não silencie o sofrimento de muitos e seja uma semente lançada à terra e que possa germinar em vida e pacífica convivência entre os povos chamados a serem irmãos.
Padre José Alfredo