
CALVÁRIO
A nossa Capela Espigueiro continua a acolher muitos doentes e amigos aos domingos e solenidades para a Eucaristia. Sem fazermos muitas contas vamos enumerando os participantes e já são mais de oito dezenas, que em cada semana nos encontrámos. A beleza do espaço idealizado desde os anos 60, pelo Arquitecto Teixeira Lopes a pedido do Padre Carlos Galamba, precisa de uma revisão urgente. Só de cadeiras de rodas são dez as pessoas que temos de fazer subir a escadaria, umas vezes à mão, outras vezes usando o nosso trepador. É verdade que temos tido a ajuda de muitas pessoas, mas não fazemos o trabalho de forma confortável para os doentes. E sempre com algum risco. E nos dias de chuva isso torna-se impraticável e o pavimento em cubos de granito dificulta a circulação das cadeiras de rodas. Mas não há doente que não aceite fazer essa peregrinação, ainda que custe um ai! e outro ai!, como a D. Joaquina exprime. Ou como sempre faz a D. Maria: — Eu queria ir mas terei quem me leve?
É urgente repensar aquele espaço ou projectar um novo e adequá-los às novas exigências, isto porque faz todo o sentido que os doentes participem na liturgia dominical e, sobretudo, pelo modo como o fazem, com tanta atenção e devoção. Participam no canto, na escuta e partilha da Palavra de Deus, na comunhão, no acolhimento às pessoas que nos visitam de fora. E muito mais que não podemos medir, como o gesto especial da persignação que faz a nossa Luisinha ou o Paulo Sérgio ou o Sérgio Manuel.
Na capela cabe um órgão positivo que a Oficina e Escola de Organizaria em Esmoriz do Pedro Guimarães e da Beate von Rhoden nos cedem. E temos tido coro e organista para animação litúrgica das celebrações. Uma bênção.
Apontar necessidades significa ponderar soluções futuras de forma responsável, até porque há tanta estrutura construída que seria descabido não equacionar isso. Na visita que fizemos, há sensivelmente um ano, à Arca de Daybreack em Toronto, Canadá, visitamos um edifício multifuncional, com salas de trabalho, salão de actividades e uma capela adaptada aos doentes com limitações físicas e psíquicas. Deram-lhe o nome sugestivo de dia primaveril (Dayspring). Por que não pensarmos, a médio prazo, numa estrutura semelhante para o nosso Calvário?
Há o nosso desejo e a vontade de o fazer. Há contactos com arquitectos para estudar o processo, que se mostraram disponíveis. Há a urgência da situação e, acreditamos, há amigos dispostos a colaborar na sua realização e execução. Alguns doentes ainda lembram a velha instalação sonora nas camaratas ou os altares móveis com os quais, no passado, se fazia chegar a celebração do mistério pascal de Jesus aos seus amigos mais frágeis. Mas, simultaneamente, concordam com a virtude inesgotável de uma visita à capela e o que isso significa de estímulo de todos os sentidos humanos: ver, tocar, saborear, ouvir, cheirar. Acreditamos que é essa presença Àquele que se faz sempre presente que os humaniza, os situa e nos leva a realizar bem o acto de cuidar quem mais precisa.
Padre José Alfredo