CALVÁRIO
No passado dia 29 de Julho celebrámos a memória dos santos Marta, Maria e Lázaro, como nos apresenta a nova edição do Missal Romano.
Os três eram irmãos. Tendo hospedado o Senhor em sua casa de Betânia, Marta servia-O diligentemente e Maria escutava-O intimamente; e com as suas orações pediram a ressurreição do irmão, que havia morrido na ausência do amigo Jesus (João 11-19-27).
Na meditação que fazíamos durante a celebração eucarística, lembrávamos que a Igreja nos apresenta um caminho de santidade para ser experimentado em família, em que os laços de sangue criam uma relação não de eleição, mas de aceitação. Coisa nem sempre fácil e evidente nas relações familiares, como é comprovado pelo temperamento hiperactivo da irmã mais velha, mais responsável, mais resmungona.
Lembrávamos também que Cristo, sendo único, atrai a si pessoas tão distintas e diferentes como os aqueles irmãos íntimos do Senhor.
O Calvário, desde a origem, é a terra prometida onde as pessoas se acolhem numa espécie de oásis social e eclesial, e aqui criam laços familiares, não de sangue, mas espirituais-carismáticos, tecidos no pensamento e acção de Pai Américo e Padre Baptista. A partilha de um mesmo lugar/habitação; de uma mesma missão e de uma igual esperança, revela que ao longo de sete décadas esta "Betânia" construída em Beire-Paredes, é um sinal profético/salvífico para os que cá vivem e para os que aqui servem ou nos visitam. Pelas relações familiares estabelecidas, não sem dificuldades e conflitos, procuramos todos crescer em humanidade e santidade, num tempo em que a conflitualidade humana aumenta cada vez mais e se torna belicista.
Há os doentes dependentes, os doentes autónomos, os doentes ainda activos, os colaboradores, os voluntários, as visitas, os técnicos de acção social e médica, os pobres, os estudantes e trabalhadores, os benfeitores, os curiosos que vendo o portão aberto entram… e os que se questionam como é possível vivermos assim. A única resposta para que este corpo, debilitado e envelhecido, mas com muitos membros, se mantenha vivo é o grito do Senhor dirigido a Lázaro preso ao sepulcro: vem para fora (João 11,43)!
O que todos esperamos para o Calvário é esta ressurreição permanente, que nos desate os laços de morte em que tantas incompreensões e tantos preconceitos, não raras vezes, nos mantém com angústia, medo e dúvida e que matam a sabedoria, o sonho e a confiança.
Fazer ressuscitar com corpo envelhecido e gasto é o esforço de dar vida a antigas estruturas com novos conceitos e métodos, que longe de cortar com o passado, o valorizam como aprendizagem, mas sobretudo em fidelidade aos desafios do tempo presente. Há tempo para a actividade criativa e acolhedora, há tempo para a contemplação íntima e contemplativa e tem de haver tempo para saber morrer e deixar-se chamar à vida pela Palavra de Deus que nos torna livres e com capacidade de libertar outros seres humanos, tantas vezes esquecidos e abandonados. Assim Deus nos mantenha fraternos e acolhedores, sem fazermos acepção de pessoas ou métodos.
Padre José Alfredo