
CALVÁRIO
A NATUREZA ÍNTIMA DA IGREJA exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), celebração dos Sacramentos (leiturgia), serviço da caridade (diakonia). São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros.
Carta encíclica Deus caritas est, n.º 25, Papa Bento XVI
No passado dia 5 de Março, celebrámos junto da Carvalha Secular o início da Quaresma. Reunimos todos os membros do Calvário às 15 horas e com Cânticos litúrgicos começámos a celebração Eucarística. A sala estava cheia, também com a presença das visitas habituais aqui em nossa Casa. A Liturgia da Palavra, recordava-nos o profeta Joel, insistia na conversão de coração, mais que a conversão exterior. O jejum necessário é não sermos hipócritas. Não tanto privarmo-nos de alimento e desfigurarmos o rosto para obtermos a piedade dos poderosos, insistia Jesus no Evangelho de Mateus, mas dar esmola secretamente!
Na Homilia partilhada lembrámos que esta não é mais uma Quaresma, nem mais uma Páscoa que viveremos e para a qual nos preparamos desde já. Serão a Quaresma e a Páscoa jubilares, como nos convida o Papa Francisco. Júbilo e esperança são duas coordenadas que teremos de assumir para alcançarmos tempos de paz. Também perspectivámos a peregrinação jubilar diocesana para os doentes e frágeis, que terá lugar em Gondomar no próximo verão, dia 14 Junho. Esses peregrinos são sinais profético para o nosso tempo que insiste na autonomia e auto-suficiência egoístas. Valorizar a fragilidade é uma opção pastoral evangélica indispensável.
De imediato procedemos ao rito da imposição das cinzas, previamente preparadas. Depois da bênção ritual aproximámo-nos dos doentes e deixámos cair o pó sobre as suas cabeças com a Palavra: — Arrependimento e conversão ao Evangelho. Tudo realizado em silêncio, apenas entre-cortado pelo chilrear do canário e do casal de agapones que temos no nosso jardim interior.
Seguiram-se as preces em tom universal, tom que desde o particular da nossa circunstância ganha força e forma de comunhão, que vence distâncias e aproxima os que vivem nas margens.
Entrámos na oração Eucarística a lembrar o superalimento que o pão e o vinho são para nós, quotidianamente renovados e distribuídos aos mais pobres dos pobres, os que não têm família!
O sinal da paz que trocámos, apesar do convívio diário, é um gesto de caridade cósmica, abraçando e beijando alguém próximo, abraçamos e beijamos todos os dispersos pelo universo, aquele que por agora conhecemos! Mas queremos abranger o ainda desconhecido e oculto no coração humano de Jesus
Terminámos com a bênção final, apelando a que este exercício de conversão pessoal mude, de facto, o mundo em que somos convidados a viver. E sobretudo este mundo que pede que o amemos incondicionalmente. Que não lhe façamos mal. Que não o destruamos.
Do nosso programa quaresmal fará parte certamente a palavra da Igreja apelando à partilha, soubemos hoje que uma parte da renúncia quaresmal na Diocese do Porto se destina a dois seminários em África (Angola e Moçambique) e à celebração dos mistérios centrais deste tempo: a missão, a paixão e a morte de Jesus, para que aconteça ressurreição. Vida renovada, saúde do corpo e para o espírito.
Desejamos que a missão do Calvário em Beire seja um serviço livre a esta vida nova, em tantas vidas envelhecidas e frágeis que as nossas mãos cuidam cada dia e todos os dias.
Padre José Alfredo