
CALVÁRIO
O responsável deve preocupar-se com o que os outros pensam, mas não deve ser seu prisioneiro. Tem uma responsabilidade perante Deus e não tem o direito de cumprir determinados compromissos, de viver entre mentiras e de ser um instrumento de injustiça.
Quem se constitui em autoridade última da comunidade deve assumir a solidão, mesmo que esteja apoiado por um conselho, permanece sozinho diante das decisões finais. Esta solidão é a sua cruz, mas é também a garantia da presença, da luz e da fortaleza de Deus. É por isso que ele precisa, mais do que qualquer outra pessoa na comunidade, de ter tempo para estar sozinho, para distanciar-se e permanecer com Deus. É precisamente nestes momentos de solidão que nascerá a inspiração e verá que rumo tomar. É necessário que tenha confiança nestas intuições, principalmente se forem acompanhadas de uma paz profunda, mas também deve procurar a confirmação, partilhando com os que na comunidade têm maior capacidade de discernimento, para além do seu conselho e dos restantes membros.
L'Arche, Comunidade: Lugar de Perdão e Festa. 1980, p.134
O Calvário de Beire continua o seu caminho de fidelidade à fundação e desafio às exigências da vida social contemporânea. São 70 anos de uma rica história que não pode ficar por narrar, com luzes e sombras, nem pode ser truncada agora, sem ter alcançado a sua meta de justo acolhimento para quem dele urgentemente carece. Feita a mudança para as instalações renovadas, adquirindo novos hábitos, estabilizado o corpo de colaboradores e voluntários, é hora de avançar.
Quero partilhar com os leitores e amigos os processos.
Alguns membros saíram do Calvário em 2018. Havia a expectativa de poderem regressar, realizadas as obras. Fizemos visitas aos lares onde foram acolhidos, fomos a audiências em tribunal para perceber da oportunidade do seu regresso, escrevemos aos responsáveis pelo processo de maior acompanhado de cada pessoa. Em algum caso não obtivemos resposta, noutros soubemos que alguns membros haviam falecido e em uns quantos a resposta foi que os acompanhados não regressariam ao Calvário, por estarem adaptados já a uma nova realidade. Esta leitura objectiva da realidade é fundamental para avançarmos com a análise de vários pedidos de acolhimento que temos em mãos. Continuaremos a privilegiar situações de pobreza (redefinindo os conceitos e âmbitos de pobreza hoje); de abandono social e ausência de laços familiares que possibilitem um cuidado efectivo. Vamos acolher neste ano de 2025 novos casos e fá-lo-emos de forma progressiva e de modo a que a interacção entre todos seja pacífica. Não esquecemos a vulnerabilidade dos membros desta comunidade que precisa de muitos cuidados de saúde física e mental. Estes casos vão passar pela mão da direcção técnica e pela direcção executiva/ espiritual e queremos manter o espírito de comunidade com os seus membros que nos caracteriza, ouvidas as partes interessadas, o próprio quem o apresenta.
Assim Deus nos ajude.
Padre José Alfredo