CALVÁRIO

No passado dia 17 celebrámos os 70 anos do anúncio do Calvário com uma festa no Coliseu do Porto-Ageas. Foram muitos os amigos que se juntaram a nós nesta feliz evocação. Agradecemos a presença de todos, apesar da noite chuvosa e fria. Contámos com a prestimosa e graciosa participação da Banda do Exército, destacamento do Porto, dirigida pelo maestro Artur Cardoso. Bem como com a apresentação da artista Teresa Salgueiro, que encheu a grande sala com a sua voz. Destacamos a presença do nosso Bispo, D. Manuel Linda; da Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Paredes, Dra. Beatriz Meireles; do Presidente de Junta de Freguesia de Beire, Eng.º José Carlos Barbosa; do Brigadeiro-General José Alberto Dias Martins, Director dos Serviços de Pessoal. A presença institucional destas individualidades recorda-nos que o Calvário é uma instituição em diálogo com a sociedade de hoje, tão diversa e plural.

Tivemos a oportunidade de ouvir em áudio a voz do Pai Américo no que constituiu uma espécie de renascimento da intuição original de criação do Calvário: uma obra de Deus levada a cabo por nós, seus colaboradores. Deus e nós cada um no seu lugar. Não é uma obra humana, é realização divina. Impressionante a força destas palavras já com sete décadas. Uma voz tão viva, saudosa e bem-aventurada.

Houve ainda oportunidade para a participação das Casas do Gaiato de Paço de Sousa, com a breve dramatização de uma história de Pai Américo; o canto do Hino Família de Deus pela Casa do Gaiato de Miranda do Corvo; e o Hino da Obra pelos rapazes da Casa do Gaiato de Setúbal, acompanhados pela soprano Cristina Silva. Os rapazes tiveram de fazer muitos quilómetros para se fazerem presentes, mas valeu a pena. A plateia apreciou a sua presença e alegria contida, o peso dos holofotes era grande! Sermos o centro das atenções encolhe-nos!

Coube ao Padre Júlio Pereira a alocução circunstancial como Director da Obra da Rua. Tendo saudado todos, sublinhou a presença dos rapazes das Casas e de alguns doentes do Calvário. Reavivou o carisma da Obra do Pai Américo e a urgência em nos reposicionarmos face às dificuldades que a sociedade na sua superorganização burocrática vai colocando. Se em Portugal as Casas do Gaiato não têm recebidos crianças e jovens em risco, em Angola, por exemplo, são imensos os pedidos para entrarem. Isto pode e deve querer dizer-nos alguma coisa. Estamos sob assistência e em diálogo com a Segurança Social para encontrar novos caminhos para as Casas do Gaiato em Portugal, mas não podemos nem devemos deixar morrer a alavanca que constituiu e constitui o apelo ao trabalho com os mais pobres e vulneráveis que há no mundo, os mais rejeitados, os que escapam a números, estatísticas e relatórios. Cada pobre tem um rosto e um nome, uma história que precisamos de cuidar onde quer que se encontrem.

No Calvário plasma-se o carisma da Obra da Rua, que deve ser reconfigurado em conformidade com as necessidades do mundo actual. Desde que existe a Igreja erguida em nome de Jesus Cristo, sempre se procedeu, ciclicamente, a inevitáveis reajustamentos, ainda que dolorosos. O tempo é de diálogo com o mundo actual para melhor servir os que precisam do Calvário. Diálogo com a cultura para que o Evangelho em carne viva – os doentes do Calvário – fecunde a sociedade contemporânea.

O doente sem família, ou com família ausente, encontra no Calvário ou nas visitas a sua família. O Calvário é um corpo frágil que resulta dos membros frágeis que congrega. Devemos ver no doente a pessoa de Jesus, o verdadeiro centro da Casa: servo sofredor, condenado, morto e ressuscitado. Os colaboradores, os médicos, o enfermeiro, as visitas, os voluntários e os amigos acompanham a vida do Calvário. Não estão desligadas do centro! Estar no Calvário é um trabalho de comunhão. É fundamental trabalhar em equipa que partilha decisões responsáveis. Todas as decisões de fundo devem ser propostas, reflectidas e tomadas em conjunto, tendo em conta o bem da Casa e dos doentes. Aos doentes, que o podem fazer, proporcionar-lhes também essa experiência de participação.

Foi ainda disponibilizado na ocasião o livro Poemas & Outros Textos, editado pela Modo de Ler com coordenação de José da Cruz Santos, obra que recolhe literatura do Padre Baptista. Pode ser adquirido junto dos serviços de Paço de Sousa ou no Calvário de Beire ou na Modo de Ler.

Agradecemos as generosas ofertas que deixaram nas capas negras dispostas no atrium de entrada. Elas ficaram cobertas de vossa generosidade.

Deixamos aqui uma última palavra, que dirigimos ao Dr. Miguel Guedes, Director do Coliseu, pelo acolhimento da iniciativa e pela colaboração de todos os funcionários. Bem-hajam.

Padre José Alfredo